quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Essência e outras categorias

 

ESSÊNCIA

O capital, Livro III, 3º Tomo – “ toda ciência seria supérflua se houvesse coincidência entre a aparência e a essência das coisas”

A categoria marxiana não refere um algo invariante e “substancial”; é, antes, a ou uma causalidade determinante. Numa formação económico-social é a sua caraterística de fundo, a que distingue uma formação económico-social de outras precedentes ou posteriores. Devemos distinguir a categoria filosófica por um lado, e o conceito científico por outro. Ou seja: a categoria de essência utilizada no discurso filosófico, no seu significado universal; ou utilizada no sentido específico, objetal, no exame científico.

6ª Tese

Marx abandonou de vez a “essência humana” marcadamente idealista-especulativa exposta nos escritos juvenis dos Manuscritos de 1844 e essência passa a ser «o conjunto das relações sociais», sempre históricas e não naturais, refletindo os modos de produzir e mercadejar. As relações sociais são materiais e historicamente constituídas e são excêntricas ao singular; são determinantes na formação das classes e da personalidade individual; constituem, assim, a essencialidade de qualquer formação económico-social, ou seja, é uma categoria transhistórica; constituem o traço que carateriza a sociabilidade intrínseca das primeiras tribos humanas.

As relações sociais de produção são as mais determinantes no conjunto das relações sociais (éticas, jurídicas, religiosas, culturais, políticas, parentais). A essência não é pois uma entidade natural, fixa, dotada de uma identidade eterna. A identidade essencial do capitalismo existe com o capitalismo e não antes ou fora dele. O mesmo se aplica à chamada “natureza humana” que tanto anima as filosofices, ora pessimistas, ora otimistas, dos liberais e “neoliberais” coevos! Não existe uma única e genética “natureza humana” má, agressiva, gananciosa, como gostava de argumentar o famigerado Milton Friedman amigo de Pinochet e seus compadres de ontem e de hoje, para justificar roubalheiras, trafulhices e homicídios.

Essência e fenómeno são portanto não duas separadas mas uma categoria dupla. Par dialético, assim como liberdade/necessidade, Finalidade/Meio-mediação. Como não há fenómeno (forma) sem essência (conteúdo) não devíamos falar separadamente de várias categorias marxianas, porque são pares numa unidade dialética. Não é uma criação pura do espírito como julgam os idealistas objetivistas (Idealismo objetivo que julga a realidade criada pela consciência) e de certos fenomenólogos. A Economia Política é atacada nos seus limites de ocultação, de fenomenologia pura, pela crítica marxiana: não é o útil (o utilitarismo), não é a demanda (o subjetivismo, o “marginalismo”), mas o valor-trabalho, a mais-valia. Não é a mercadoria, o valor de troca, embora tudo seja mercadoria no capitalismo. A 6ª Tese conserva-se em O capital: Livro primeiro. É, enfim, a exploração a qual possibilita a acumulação. Não é a regra de assalariar que é o núcleo isolado essencial do modo de produção capitalista de há mais quinhentos anos a esta parte, embora sua condição manifesta: é o roubo da mais-valia.

Esta essencialidade do capitalismo que emergiu na Baixa Idade Média e expandiu-se com a Revolução industrial e o direito burguês, o socialismo que ruma para o comunismo põe-lhe termo. Tivemos grandiosos exemplos no passado e temos bons exemplos hoje em dia.

Apesar destes argumentos que colocam a partir das Teses sobre Feuerbach a essência no conjunto determinado de relações sociais, pergunto: contudo, faz sentido separar relações sociais das forças de produção? Não significa contrariar a noção de modo de produção? Respondo: na formação da personalidade, das ideologias, da sociabilidade, o que desempenha um papel determinante são as relações sociais que rodeiam e influenciam o sujeito singular (não a natureza, a biologia, etc.). Nesse sentido, falamos da essência humana, do que foi constituindo a humanidade do homo sapiens. Quando nos referimos à essência ou fundamento das sociedades-das formações económico-sociais- devemos utilizar o conceito de modo de produção. Quando falamos da essência das sociedades capitalistas, devemos referir o modo de acumulação de capital-dinheiro através do Valor: mais-valia, exploração ou taxa de mais-valia, trabalho abstrato.

Portanto, interroguemo-nos: a sua essência qual é? Se for no sentido filosófico, no sentido da natureza histórica das coisas, como categoria, será precisamente o processo histórico; se for como causalidade e finalidade e necessidade do modo de produção capitalista é a acumulação por meio da extração da mais-valia da força de trabalho comprada. Repito: para Marx e Engels só há uma ciência social: a História.

 

 

NOTA Dialética nas obras de Marx

 

 

 

DIALÉTICA

Ver Manuscritos de Paris (1844) ----Terceiro Manuscrito:» Crítica da Dialética e da Filosofia Hegeliana em geral»; A Sagrada Família (1844), ou Crítica da Crítica, contra Bruno Bauer e consortes, Cap. “O Segredo da Construção Especulativa», o seu carater apriorístico, abstratizante, os “seres naturais reais” não se derivam de conceitos vazios; A Ideologia Alemã (1845- 1846) contra Feuerbach, Bruno Bauer e Stirner. «Não é a consciência que determina a vida, mas…»; a Miséria da Filosofia, (1847) contra o livro de Proudhon, Filosofia da Miséria, Cap. II, «A Metafísica da Economia Política, parágrafo sobre o método; os Grundrisse, Introdução, 1857-58); Para a Crítica da Economia Política, Prefácio, Introdução (1859); O Capital (1857), Prefácio da 2ª edição alemã (1873)   

A natureza não conhece contradições dialéticas (negatividade/Positividade), tal como desconhece a matemática. A dialética da natureza consiste em que as relações e processos só se conseguem racionalizar até ao fundo na sua complexidade com um pensamento e um método dialético. É a nossa mente que reconhece nos fenómenos naturais (bioquímicos por exemplo) interações que uma lógica formal, unilateral (a lógica da não contradição) não consegue explicar com os conceitos tradicionais. Agora pôde, porque desde o século passado, desde Einstein e a relatividade, o princípio da incerteza de Heisenberg, a física quântica, o BigBang e tantos enigmas da astrofísica, da genética, do psiquismo humano, a complexidade, as ciências recorrem à dialética sem a nomear pelos mesmos termos. Não tanto porque a receiem, mas porque inventam outros termos que, na realidade, cabem perfeitamente na terminologia dialética. Talvez por essa razão Hegel volte a estar na ribalta (depois de ter sido tratado como «um cão morto»). Engels não estava tão errado como decretou o “marxismo ocidental” antissoviético durante cem anos, só porque era antissoviético. Não há de valer a pena atacar a dialética da natureza apenas porque se despreza o livrinho de Estaline. Admitir e expor a dialeticidade dos fenómenos naturais pode ser a última objeção ao idealismo, qualquer que ele seja na ciência e na filosofia. As ciências da natureza nos mostram a transformação do individual no universal, na reprodução de uma mutação vantajosa ou como a negação se revelou positiva, do contingente em necessário, do efeito que se converte em causa, da mudança da quantidade em qualidade, das mediações, na ligação recíproca dos contrários.

Totalidade

É o todo abstrato-concreto, a realidade na sua máxima universalidade, complexidade e concretude: a Natureza, a Matéria, a materialidade do mundo. Categoria aqui eminentemente filosófica (fundamental em Baruch Espinosa e Hegel). Sem ela não se aguenta em pé materialismo algum. Seja ele o evolucionismo naturalista neodarwinista, seja o materialismo dialético marxiano. Não sobra, não pode sobrar nenhum espaço para fantasmas sem materialidade. É o todo (das Ganze). em que cada parte, mínimo elemento que seja, manifesta a sua ligação com os outros elementos. As contradições não são separações absolutas de elementos, são relações entre unidades e séries.

 ver Para a Crítica da Economia Política, Prefácio (1859)

Da filosofia mais abstrata rumemos para as sociedades feitas pelo homem. É de aplicar o termo totalidade? Sem dúvida alguma. Usamos o termo não por mera retórica, mas para expressar com rigor a coesão (embora atravessada por contradições) de uma determinada sociedade, neste caso presente a sociedade capitalista. Em Marx o todo das relações sociais de uma formação económico-social. Um todo em processo. Totalidade é categoria inusual em Marx? Encontramo-la em A Ideologia Alemã, I Parte: unidade concreta de contradições. Toda a totalidade socio-histórica uma dada formação económico-social- é composta de totalidades (subtotalidades) simultaneamente subordinadas ao todo e subordinantes desse todo, dinamizadas pelas contradições, diferenciadas por maior ou menor complexidade, limitadas a um período histórico concreto. A verdade encontra-se na totalidade de todos os aspetos do fenómeno, das relações recíprocas que compõem uma dada realidade. As totalidades produzidas/reproduzidas por mediações, transições de um estádio a outro, ligações de reciprocidade, interconexão. Uma parte, um elemento, um acontecimento, um fenómeno, não podem ser avaliados independentemente de um todo, totalidade, composto combinado de estruturas.

O capitalismo unificou o mundo todo e assim possibilita mais ainda o internacionalismo proletário, unidade nos interesses económicos e nos objetivos políticos do proletariado e dos seus partidos representativos; possibilita manifestações de massas à escala mundial, pela comunicação universal e instantânea; possibilita crises económicas mundiais, interdependências entre os países do globo, espoliação pelas multinacionais, concorrência inter-imperialistas e guerras.

O socialismo é a totalidade das forças produtivas e a sua apropriação pela classe operária. A categoria permite esclarecer a questão do lugar estrutural da esfera económica na Teoria marxiana e anular a censura recorrente do determinismo económico. A categoria agrupa a infraestrutura e as supraestruturas.

 A totalidade é um processo em desenvolvimento

O Capital: Livro Terceiro, «O Processo de Produção Capitalista como um Todo», o capital social total, as suas crises, tendências e contra tendências ganham sentido e significado. O Capital, Livro Terceiro, Tomo VI, Edição Avante!--- «O Processo Total da Produção Capitalista», « Der Gesammtprocess der kapitalistischen Produktion»

 

Nota Lenine formulou a noção estratégica de imperialismo, suas contradições e seus elos mais débeis.

 

 

DIALÉTICA

 

Classes sociais

Foi sobre a divisão do trabalho que se constituíram as primeiras classes sociais. Ao enfatizarmos a existência de classes sociais ontem e hoje, é na evolução da divisão do trabalho que partimos. Mas não só. Marx falou disso mas foi mais fundo (de resto, a propriedade privada na esfera da divisão do trabalho era tema recorrente de Rousseau e do socialismo utópico). As diferentes e opostas classes sociais erguem-se sobre a exploração do trabalho de uns grupos sobre outros. Não são grupos pequenos nem idênticos; são grandes –os maiores- grupos que se diferenciam por vários aspetos uns dos outros em vários aspetos que continuam atualmente tão discerníveis quanto o eram no século dezanove. No essencial (empreguemos a categoria!) são os mesmos: aqueles que vem a sua força de trabalho a outros que têm dinheiro e poder social para a comprar como valores de uso capazes de produzir um sobrevalor. Acaso desapareceram? Sim, as classes diminuíram em número de indivíduos: o pequeno campesinato proprietário de terra e o proletariado agrícola diminuiu drasticamente na Europa e nos EU (aqui são classes residuais), contudo não desapareceram porque alguém tem que trabalhar na terra com as máquinas; o proletariado industrial também vem diminuindo em Portugal e no resto da Europa, mas não desapareceu obviamente; os bens importados, que deveriam ser produzidos em Portugal, foram produzidos por outros proletariados, na Europa que “palmou” o tecido industrial que foi extinto aqui, e nos países do antes chamado “Terceiro Mundo”. Em todo o globo o proletariado tem vindo a aumentar, nalgumas zonas fortemente. Portanto, é um problema sério para Portugal, não para o internacionalismo proletário ao qual só faltam as condições subjetivas. É esta subjetividade, dizendo melhor: é a consciência de classe, essa noção marxiana tão importante de classe-para-si, que está faltando. E bastaria que o operário tomasse consciência- entendesse como evidente- de que aquele produto que produziu não é seu, nem dos seus camaradas…Quantas vezes demonstra que sabe que o patronato agrupado em confederações vive do trabalho duro deles, operários, quando ele em assembleias decidem a greve!

Por conseguinte, a noção de classe é fundamental na génese da teoria marxiana e sempre até à redação final deO Capital. Sabemos hoje, pela historiografia, que nas sociedades não capitalistas ou precedentes a noção não se pode empregar com a mesma clareza e rigor, do que Marx e Engels mostram ter perfeita consciência na spáginas deAIdeologia Alemã e no Mnaifesto, e Engels no seu livro Do Socialismo utópico ao socialismo científico.

Podemos consultar o ponto de vista de Marx sobre a existência de classes sociais modernamente, nos livros O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, parte VII, e em Miséria da Filosofia, cap.II, mas também há referência em O Capital, capitulo final do Livro Terceiro, editado por Engels. Marx repetidas vezes demonstra não ignorar a ascensão de uma “classe média” e das consequências que isso viria a trazer. O século vinte foi um reportório infindável de ataques à teoria de Marx e ao Manifesto com base na real mas empolada classe média. É o famoso “centrão” em política aoqual se dirige a política das social-democracias nas campanhas eleitorais, e que, evdenemente, os partidos de base operária não podem ignorar ou confrontar.

O grupo que se apropria (de modo violento como é de regra) das terras e de outros recursos, dos excedentes produzidos pelos que trabalham, exerce essa  dominação recorrendo a todas as formas disponíveis nessa civilização (regra geral, omonopólio da força), que vai aperfeiçoando ao sabor das necessidades de coerção.

 A classe dominante (expressão utilizada por Marx e Engels em a Ideologia Alemã, por exemplo), normalmente não está sozinha no confronto com a principal classe (ou grupo grande, maioritário, de pessoas) que trabalha e produz toda a riqueza: emergem subclasses (a pequena burguesia por exemplo) e camadas (o feudalismo era um complexo sistema de estamentos e vassalagens;porém, na base, quem os alimentava a todos era o campesinato9.

Ao lado desses pilares ergueram-se outras classes secundárias ou subclasses da classe dominante, os sacerdotes e burocratas por exemplo.Logo que primitivamente a produtividade se desenvolveu por via da melhoria progressiva dos utensílios de trabalho e dos restantes meios de produção (melhoria das terras, das sementes, dos animais domésticos, etc) aumentou a capacidade de acumular excedentes, um surplus, surgiram as condições históricas da constituição de estratos sociais. No feudalismo o sobretrabalho dos camponeses era extorquido sob a forma da corveia ou de um tempo de trabalho forçado produzindo um excedente entregue ao senhor; essa obrigação era imposta pela força (as armas eram monopólio dos senhores) e pela coerção ideológica (religião e igrejas, tradições ou habitus cuja origem e função se perdia o rasto tornando-se indiscutidas por resignação a um destino que parecia inelutável, submissão que não durava sempre nesses tempos, fosse na Europa ou na China, como se demonstra pela explosão de revoltas. As classes sociais, estratos e castas, eram igualmente percecionadas pelos próprios indivíduos que se julgavam superiores e diferentes ou inferiores os elementos simbólicos e representacionais sempre desempenharam uma função de autorreconhecimento, de pertença e identidade, de respeito e veneração. Atualmente e como prova de que existem classes sociais pelos diferentes rendimentos e fontes desses rendimentos (salários, lucros), pela posse ou não de meios de produção ou de mercadorias que representam valor e capital (os grandes comerciantes), pelo nível de instrução (embora no passado tivesse um peso muito mais relevante, não desapareceu essa distinção que explica em parte a inferioridade social dos trabalhadores não qualificados, ocupar-se em profissões que representam cargos de poder ou em outras que são meramente marginais. AS classes também se expressam e se diferenciam umas das outras pelas lutas entre elas, isto é, a luta faz apresentar-se com nitidez a diferença e a oposição de interesses unindo os indivíduos em grandes grupos sociais pela identidade de interesses; para tal contribuíram sempre fortemente os sindicatos de assalariados e os “sindicatos” dos patrões; é nas lutas, nas medidas comuns que os patrões querem aplicar à massa dos trabalhadores e nas reivindicações dos trabalhadores, que ambas as classes se reconhecem como classes, diferentes e antagónicas. A grande mistificação encontra-se no direito que em boa parte substituiu a mistificação religiosa. Contudo, a ideologia e não apenas a jurídica, continua a ser uma das mais poderosas armas de dominação; nela deve-se incluir a fetichização da mercadoria pela qual se oculta a origem desta no trabalho vivo de homens, mulheres e, por vezes, de crianças. Afirmar que as classes desapareceram é pura propaganda burguesa; ou que a classe operária, o proletariado, está em inferioridade numéria em vias de desaparecimento ou residual face ao sector terciário e à introdução das novas ferramentas de produção. Ou que os trabalhadores se aburguesaram e se integraram com satisfação no sistema; ou que novas classes médias absorveram o proletariado e ocupam o espaço político tanto conformista como reivindicativo. Tudo isto são exageros, empolamentos artificiosos de mudanças reais. Argumentos: ver Marx. O capital, Livro Segundo, o processo de circulação do capital, assalariados indiretamente produtivos. Livro Terceiro, trabalhador global e o conflito com o capitalismo global. Capítulo inacabado sobre as classes sociais sobre o qual se interrompeu a edição do Livro Terceiro. O proletariado sempre foi mudando na vida de Marx (artesão pobre, tipógrafo, proletariado camponês, mineiro, tecelão…operário das siderurgias gigantes e monopolistas que concentravam uma enorme massa de trabalhadores, pequenos mangas-de-alpaca quase miseráveis, empregados de grandes armazéns de comércio…Marx e Engels acentuam no Manifesto o que era imediatamente visível e importante para as grandes revoluções que se avizinhavam em 1848; manter essa definição de proletariado não o fez nem Marx, nem Engels; fizeram-no os marxistas. De resto, a palavra proletariado deriva do latim prole, e não de operário da grande indústria…Circunscrever seria reduzir a base de apoio dos sindicatos e dos partidos comunistas e endeusar uma determinada classe proletária. Ao designar agora como “colaboradores” os operários e trabalhadores, a burguesia mostra o receio das classes.

Não podemos desenvolver aspetos de relevantes, como a tendência para a proletarização das «camadas intermédias» ou o aumento dos “empregados” (uma categoria que começa ser sociológica e estratégica), ou, pelo contrário, o aumento exponencial da “classe média” subtraindo importância ao proletariado. Estes e outros problemas ultrapassam em boa parte os limites do conhecimento de Marx e Engels, embora se possa demonstrar que ambos os pressentiram. A meu vr a Teoria de Marx dirigida à consciência do proletariado e seus aliados, não perde atualidade e possível eficácia com a noção de assalariados, correspondentes a uma proleatarização que agrupa todos aqueles que vivem de um salário na medida em que sem ele não poderiam subsistir, e que tudo produzem, tanto bens materiais e imateriais (as notícias nos telejornais precisam de operários a produzir televisores e outros equipamentos e técnicos qualificados…

Não há classe senão na relação conflitual com outras classes. O sujeito revolucionário constitui-se na luta, não é um elemento imanente a um plano providencial, os interesses de classe não fazem automaticamente de uma classe uma classe revolucionária, isto é, interessada em derrubar o poder de outras. A história mostra como determinadas classes ou estratos coexistiram por interesse com a classe que detinha os poderes principais; foi um conjunto de fatores (forças e relações de propriedade e produção) que se desenvolveram, aumentando numericamente a classe, o seu poder económico, a sua instrução e o poder social que daí adveio, as crises económicas e políticas, o descontentamento popular, as guerras entre nações, as nacionalidades e a concorrência, etc. Isto que se passou com a burguesia nos seus setores mais descontentes, não se passa com as classes trabalhadoras atuais: estes estão interessados em que o capitalismo se desenvolva de modo que haja condições económicas para lutar e conquistar a satisfação de reivindicações e que não se reduzam os direitos e liberdades que facilitam essas lutas.

As classes não se reduzem a um conceito estratégico, isto é, meramente político, na luta. Têm um estatuto sociológico. Os indivíduos, no remoto passado e em todas as civilizações, e contemporaneamente, ocupam necessariamente um lugar e desempenham um determinado papel no universo económico-social. Sem isso não se entende nem se protesta contra a desigualdade atual profunda. Quem compra a força de trabalho, quem a põe a trabalhar, quem embolsa a maior parte do período de tempo em que o trabalhador trabalha, quem embolsa os lucros dos empregados do comércio, dos inventos patenteados, dos recursos naturais comprados portuta e meia aos camponeses pobres nos continentes, quem promove as guerras no Médio Oriente, no Congo, quem pode ganhar as eleições presidenciais nos EU?

 

Trabalho improdutivo

É uma questão que tem motivado muita controvérsia.

No livro III Marx demonstra que o trabalho improdutivo nos circuitos de comercialização e transporte é condição sine qua non de realização do valor.

 

O argumento do aburguesamento do proletariado (classe média baixa) baseia-se em critérios como o nível dos salários e de prestações sociais, enquanto que Marx avaliou segundo o critério principal do papel atribuído na estrutura das relações sociais )excluído de qualquer forma de propriedade de produção e respetivos meios de produção, obrigado a assalariato e à venda da força de trabalho, sem real controlo do processo de processo e pouca ou nenhuma participação na empresa ao nível da execução global ; pode ser acionista mas no conjunto os operários não assumem nunca a direcção). O Capital, p.175 «todo o trabalhador produtivo é um assalariado, mas nem todos o trabalhadores assalariados são também produtivos.» Há-os que abocanham parte da mais-valia distribuída. O capitalismo comp~e-se de duas divisões: a primeira, a produção de mercadorias; a segunda, é entre os capitais concorrentes. È este quadro que caracteriza o capitalismo desde as suas mais remotas origens e que o conserva sem alteração de fundo.

 

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A economia capitalista produz valor; sendo assim, produz mais-valor; por conseguinte, existe aqui um processo de produção em que há necessariamente duas personagens: uma delas produz mais valor do que o valor que recebe sob a forma de salário; portanto, a economia capitalista porque produz valor pressupõe um modo de exploração dos que trabalham e essa exploração pode avaliar-se qualitativa e quantitativamente. Isto é marxismo.

1. Ainda não há sinais de que o capitalismo sufoque no seu próprio excesso, de uma morte por overdose de si mesmo. Vão encontrando novos nichos de negócio, tecnologias que lhe prolongam a vida e os lucros, consensos sociais, mediações. Não se pode acreditar, porém, que este modo destrutivo de produção seja eterno. Sabemos que tem de ser combatido. Não sabemos é como será vencido.

 

 

Mística: «Isso faz do capital um ser místico: todas as forças produtivas sociais do trabalho aparecem com efeito como sendo devidas ao capital e não ao trabalho.», Livro III

 

Não devemos enfatizar demasiado o papel das crises económicas, corre-se o risco de resvalarmos para o determinismo utópico ou reformista. Os economistas burgueses também admitem que as crises (e os ciclos) fazem parte da própria natureza do capitalismo. Atualmente certos liberais e alguns discípulos de Bernstein avisam dos perigos do capitalismo “sufocar” ou “colapsar” em consequência da “globalização” financeira. Uma espécie de teorias neo-malthusianas.

 

É o próprio Marx que afirmou: «a lei mais importante da economia política moderna» é a tendência à queda da taxa de lucro, Livro III de O Capital. Aqueles marxistas que recusam a importância desta “lei” deviam ler o Marx e demonstrar empiricamente que Marx estava equivocado nestes últimos 150 anos.

 

Citações

OE de Marx e Engels e O Capital

O que distingue o trabalho assalariado, p.61

A personificação das categorias económicas, p.12(92?)

A hora da expropriação, p. 157, II tomo

Negação da negação, p. 157

O que é o socialismo, p.157, Cap. XXIV

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A economia marxiana está ao serviço da luta política no sentido literal. Não pretende explica-lo para melhorá-lo, prevenir e remediar as crises que o vão assolando, explicar a psicologia do consumidor, os “jogos”, etc. Pretende nas mãos de Marx, de Engels e dos marxistas no sentido próprio, derrotar a força política e económica do Capital e eliminá-lo da face da terra. Pode (e deve) O Capital ser estudado nas academias atualmente por causa das crises, submetido a uma operação cirúrgica que aproveita apenas o que pode ajudar a explicar as crises e, portanto, a preveni-las ou mesmo impedi-las, que tal não altera a “missão” da obra de Marx.

 

A concepção materialista do mundo e da vida é irrefutável. Com o avanço das ciências que a vêm confirmando não resta aos idealismos se não a fé e as crendices populares. Os enunciados metafísicos kantianos –Deus criador e moral, imortalidade da alma- não obtiveram qualquer demonstração nem empírica nem lógica. «Deus morreu» efetivamente e com ele, a alma e os valores que deviam a sua subsistência a esses frágeis pilares. No entanto, as religiões subsistem e com imensa força, acomodando perfeitamente o seu primitivismo ingénuo às subtilezas da sociedade capitalista. Permanece perfeitamente atual a explicação geral avançada pelo Jovem Marx …..Acresce às razões que explicam tais fenómenos já avançadas pelos materialistas da China, Índia e antigas Grécia, os novos fenómenos típicos apenas das sociedades capitalistas: a feiticização da mercadoria, fenómeno que, por um lado, reforça a atitude religiosa e, por outro, canaliza para si próprio algum descrédito sofrido pelas igrejas tradicionais nos países mais desenvolvidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

. Absolutizar a atividade (práxis) pode levar em política ao voluntarismo e ao utopismo e ao culto da personalidade (dos grandes homens, dos chefes); absolutizar o papel determinante das estruturas económicas (sejam as forças de produção ou as relações de produção) caindo no determinismo economicista,

Nem o materialismo deve cair no determinismo pela natureza (bio, fisio)

Crítica do velho materialismo (que não era assim tão velho ao tempo), fisicista, passivo, não histórico

Crítica do idealismo à Max Stirner e Fichte, basta abolir as ideias velhas (crítica de Marx-Engels, Sagrada Família)

A simples independência da matéria (natureza, mundo externo) em relação ao pensamento não significa necessária e claramente o seu primado causal sobre este, porque tal coisa já era admitida pelo idealismo objetivo de Platão, Aquino e Hegel.

A ciência experimental desmente categoricamente o idealismo ontológico e epistemológico: temos sido capazes de reproduzir os processos da Vida natural e, portanto, eliminámos a «coisa-em-si» kantiana.

É verdade que Lenine esclareceu melhor que Engels qual o papel da filosofia e sua distinção da ciência, autonomizando relativamente as categorias filosóficas, dos conceitos científicos.

 

O Capital, I, nota 5a. O trabalho imaterial.

 

As categorias

1.materialismo ontológico

2. materialismo epistemológico

3. materialismo práxico.

 materialismo histórico.

Materialismo científico

 

 

Capital fictício

O capital financeiro não é apenas o capital que se multiplica através da especulação bolsista ou outra, ele é a fusão do capital industrial, comercial e banqueiro. O capital fictício funciona como investimento em produtos que só serão valorizados mais tarde, em impostos que só serão coletados mais tarde, etc.

 

DIALÉTICA

Forma/conteúdo

Forma/essência

Possibilidade formal/ possibilidade real

Salto-emergência.

 

Comunismo --- «não é nem um projeto alternativo antecipadamente descritível nem um sonho vão: designa antes de mais o movimento teórico e prático pelo qual uma realidade se critica a si mesma e torna possível e necessária a sua própria superação, inventando progressivamente as suas condições, ajustando e corrigindo-se incessantemente.» Isabelle Garo, entrevista Esquerda Net

 

«O comunismo não é um estado que deva ser implantado, nem um ideal a que a realidade deva obedecer. Chamamos comunismo ao movimento real que acaba com o atual estado de coisas. As condições deste movimento resultam de premissas atualmente existentes» (A Ideologia Alemã)

 

A finalidade da produção sob o capitalismo nunca foi o consumo mas a acumulação, a produção pela produção. E isto está no cerne da irracionalidade deste sistema, sto é, na irracionalidade da Modernidade, tal como foi denunciada por filósofos iluministas e utópicos dos séculos dezassete e dezoito. O capitalismo é conduzido a isso, queira o indivíduo ou não, constrangido pela concorrência a reinsvestir os lucros ( o que o diferenciou do feudalismo) para não ser esmagado.

 

Comunismo --- «não é nem um projeto alternativo antecipadamente descritível nem um sonho vão: designa antes de mais o movimento teórico e prático pelo qual uma realidade se critica a si mesma e torna possível e necessária a sua própria superação, inventando progressivamente as suas condições, ajustando e corrigindo-se incessantemente.» Isabelle Garo, entrevista Esquerda Net

 

«O comunismo não é um estado que deva ser implantado, nem um ideal a que a realidade deva obedecer. Chamamos comunismo ao movimento real que acaba com o atual estado de coisas. As condições deste movimento resultam de premissas atualmente existentes» (A Ideologia Alemã)

 

O concreto não é o empírico, é a síntese de múltiplas determinações (a força de trabalho; o Valor; o capital)

 

Nas crises sistémicas é o capital que se nega a si mesmo. Dialéctica!

A crise revela que o capital não é a medida do valor, a substância. É o trabalho abstrato. Trabalho socialmente necessário. O Valor-Trabalho abstrato é o que há de mais concreto: é a mediação das relações sociais. Abstração que se realiza na prática e a expressa. Abstração que provoca estranhamento nas relações e fetichização da mercadoria. O dinheiro (preço da mercadoria e finalidade da acumulação) realiza o Valor. Ao mesmo tempo que obscurece, ilumina. O dinheiro é uma abstração real, transporta relações sociais de produção que fazem dele a suprema divindade.

 

Socialismo (s)

A necessidade tática-estratégica de estabelecer etapas quando da construção de uma formação económico-social socialista deduz-se sem dificuldade das obras e da correspondência ad eMarx (Manifesto, Glosas ao programa de Gotha, cartas), coadjuvado por Engels após o desaparecimento físico de Marx. O que distingue um qualquer reformismo revisionista ou social-democrata das ideias de ambos (para além das ideias de Lenine) é que os primeiros abandonaram o marxismo e o socialismo como poder dos próprios trabalhadores. Um “socialismo” com o grande capital a mandar, não é socialismo nenhum, nem etapa alguma. Portanto, o poder central e a sua forma ,é coisa fundamental. É, na realidade o problema de qual classe deve ser a dominante?

O desaparecimento da URSS e dos países socialistas do Leste teve repercussões que continuamos a sentir por toda a parte; arma de uma terrível eficácia utilizada permanentemente pelos órgãos ideológicos do capital (incluindo evidentemente as social-democracias); um obstáculo à aceitação do marxismo. Apesar dessas derrotas tremendas, os trabalhadores acompanham com simpatia os progressos económico-sociais e a política pacífica da imensa China governada pelos comunistas!

 Não há lugar nem para pessimismos, nem otimismos. “Socialismo ou barbárie!” é uma atualíssima palavra-de-ordem. Ou seja: podemos ser conduzidos pela NATO para uma hecatombe nuclear, ou pelo capitalismo para alterações climáticas catastróficas. É uma possibilidade real, nada formal. Podemos, como defesa reativa racional, travar essas tendências.

O comunismo é já hoje.

 

Há algum determinismo em Marx: seriam as forças produtivas (técnica?) a provocar a mudanças (das relações de produção). As relações d eprodução de início estimulam, depois travam. Mas é estranho que no Maniesto não haja essa ideia e não surja em O Capital…Talvez dependesse apenas da exposição e de fórmulas concisas.

Em Portugal foram as forças de produção que contrariavam as relações de produção capitalistas (ver Álvaro Cunhal, Rumo à vitória.

 

Entre os assalariados (proletariado) a classe (classe-para-si) operária industrial tem de desempenhar o papel revolucionário principal, pelas condições objetivas. Foi e será sempre uma minoria.

Quando se reivindica o desenvolvimento nacional das forças de produção (o tecido industrial, produtivo) é a independência da produção nacional, o crescimento do emprego e da classe operária.

 

A questão das identidades e dos coletivos.

 

Marx preferia a liberdade individual, possibilitada pelo comunismo. Desde a juventude que esse era o ideal. Não o individualismo egoísta e alienado que se vive na sociedade capitalista desenvolvida.

 Marx não defendia que a felicidade estava, e estaria eternamente, no trabalho árduo, seja no capitalismo, fosse no socialismo. Pelo contrário, a humanidade na sociedade comunista encontraria, por fim, o máximo possível de tempo livre. Esse é o entendimento que faço da tese tão controversa de apologia ou não do desenvolvimento das forças mecânicas da produção. A chave do argumento e dessa atividade agradável estaria no alto nível da produtividade. Aqui enquadra-se o seu elogio do capitalismo e a famosa e controversa tese de que o socialismo somente deveria e poderia ter lugar num país de capitalismo desenvolvido e maduro.

 

Marx e a ecologia----Marx, Manuscritos de 1844, O Capital, Livro Terceiro; Engels, Dialética da natureza.

 

Os chamados novos movimentos sociais, são mais antigos do que aparentam. É um erro julgar-se que substituem a classe operária que já “desapareceu”. O único tema que ganhou uma urgência e uma capacidade de mobilização mundial correspondente,, embora venha desde os anos sessenta, a~so as alterações climáticas quando subitamente a comunidade científica se alarmos com o resultado de simulações para comprovar o aquecimento global. Ora, nem este tema, nem a questão da igualdade de género ou ética, vem tomar o espaço das lutas de classes. Claro que alguns se encarregam de convencer os incautos de que os conflitos sociais se reduzem às contestações sindicais e dos partidos da oposição contra os governos. Mas eis que, de repente, estalam grandiosas manifestações de massas no Chile, na Argentina…e há que esconder depressa da opinião pública as lutas de classes…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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