quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

As ditadura do capital

 

As Ditaduras do Capital

Capítulo I- O Pavilhão da Mentira

    Chegado o centenário da Revolução Socialista Soviética assistimos a novas a redobradas campanhas contra esse feito pioneiro na história da Humanidade. Sociedade sonhada de mil maneiras pelos oprimidos de sempre nos cânticos de trabalho servil, nos romances utópicos, nas revoltas camponesas, nas grandes revoluções da Modernidade, nas experiências sociais de visionários, nas insurreições dos escravos nas Américas, na Comuna de Paris, no potencial subversivo do génio artístico. Assistiremos à reinvenção de velhas mentiras contra o acontecimento que decisivamente marcou o mundo desde há cem anos para cá e, por isso mesmo, todos falam.

Os comunistas são alvos constantes de calúnias, desde logo no decurso das vidas de Karl Marx e Friedrich Engels, alvos da fúria assassina do nazi-fascismo, alvos na “Guerra fria” promovida pelos EUA, continuamente até ao período presente. Perseguidos e caluniados inclusivamente todos aqueles democratas que apenas manifestaram alguma simpatia e compreensão com os comunistas, como se verificou no período de “caça às bruxas” do macarthismo. A “Guerra Fria” não foi senão o curso de sucessivas “guerras quentes”, desde a Coreia ao Vietnam, desde o Irão à Indochina, da África à América Latina, sem esquecermos a Revolução dos Cravos.

Não é somente a extrema-direita que odeia os movimentos, partidos e governos que se reivindicam do projeto socialista e comunista, são todas as formações políticas pró-capitalistas, qualquer que seja o seu nome. Os nomes são palavras; com estas tanto se diz a verdade como se mente. Nacional-Socialismo, Estado Corporativo, Estado Novo, democracia orgânica, Frente Nacional, democracia…tudo são palavras para disfarçar uma finalidade principal: a acumulação de capital e a taxa de lucro conveniente.

O ódio, a difamação, a mentira, não têm limites. A “moral” da Política é, sobretudo, a política da Economia. Quem quer que queira honestamente conhecer a verdade pode somar os milhões de mortos de todas as guerras contra o socialismo e o comunismo. Compreenderá facilmente que o principal inimigo, o alvo e a vítima, desde há quase duzentos anos, do Capital, são os povos que dele se querem libertar.

Um jornalista da televisão pública que destila mentiras e distorções na mente de portugueses que pagam a dita é também romancista. Dá pelo nome de José Rodrigues dos Santos. Afortunadamente para essa figura, goza de notoriedade que os telejornais lhe permitem, e goza também, não sem essa ajuda preciosa, de sucesso de vendas.

Obriga-nos a prestar-lhe atenção, quando, como escritor, não perderíamos um minuto. Trata-se dos seus últimos livros, “As Flores de Lótus” e «O Pavilhão Púrpura». Ameaça-nos com uma trilogia…

O livro narra as deambulações de quatro personagens distintas, na China, Japão, Ucrânia e Portugal, nos anos trinta do século passado, década que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.

O romance carece de envergadura literária e não permanecerá na história da literatura mais tempo que outras novelas de “aeroporto” igualmente de grande sucesso comercial. Contudo não me ocuparei a demonstrar a técnica astuta que caracteriza essa literatura comercial vulgar: o uso abundante de clichés, o arranjo de personagens estereotipadas, a esperteza de provocar sentimentos mórbidos, os diálogos postiços.

Os acontecimentos (a guerra civil na China, a ascensão do fascismo no Japão, a coletivização da agricultura na União Soviética) são narrados com o artifício da simplificação e com o recurso ao velho esquema novelesco dos “bons” e dos “vilões”, maldade pura e pura inocência. A subjetividade é o ingrediente fundamental de um escritor: narra conforme ele sente e julga. No caso que me importa, é uma determinada interpretação que distorce os factos, é o juízo valorativo.

Qual é, então, a mensagem política que nos obriga a desmentir?

A seguinte: o nazi-fascismo tem origens no marxismo! Se o leitor à partida repudia o nazi-fascismo que ele fique a saber (pois que não sabe, afirma o autor com arrogante paternalismo) que mais diabólica é a doutrina que o gerou. Nem mais. O Pavilhão Púrpura (excertos)

J. R. dos Santos deita mão ao truque do narrador iluminado pela verdade objetiva que descreve as maldades de monstruosas doutrinas e as suas vítimas: pobre gente sem preconceitos, ideologias, contradições.

De Salazar compõe-se o retrato de um estadista “maquiavélico” mas no sentido positivo: no livro, em um diálogo com um militar que mostra antipatizar com a fação do «Nacional-sindicalismo», Salazar explica-lhe que a Mocidade Portuguesa e outras organizações de massas servem apenas para apaziguar os adeptos fascistas de Rolão Preto e que se inspirou na Carta del Lavoro de Mussolini porque é preciso “concentrarmo-nos no que essas correntes têm de meritório”. O ditador é tratado pela presumida vox populi como o “Toninho”. Uma ternura.

Em declarações públicas J.R. dos Santos em sua defesa recorre aos chamados «historiadores revisionistas» como se fossem autoridades científicas indiscutíveis, quando, na verdade, têm sido desmentidos e mesmo em alguns casos ridicularizados pelos seus pares.

 O pensamento de J.R. dos Santos é uma amálgama de contradições e juízos falaciosos: o fascismo (refere-se ao italiano? ao nazismo?) é uma das revisões do marxismo. O que sobra então do original? As palavras socialismo (Nacional-socialismo) ou corporativismo? «Até que ponto um revisionismo ainda é marxista?», pergunta a criatura; pois, essa é essa a questão a que ele devia responder. Enfim, diz ele, «as origens…são em geral, múltiplas e variadas». Pois são. Provavelmente do próprio liberalismo…Do pensamento de Marx é que não há sinal nenhum.

 J.R. dos Santos vai buscar apoio em Georges Sorel e Otto Bauer.

Capítulo II- Sorel e Bauer

Sorel, Georges, 1847-1922. Useiro e vezeiro em fraseologias pseudo-marxistas o seu pensamento pendular percorreu várias fases muito distintas. Adepto do “determinismo científico” deslizou rapidamente para a assunção do marxismo como uma doutrina “ética”, à maneira de Proudhon e Bernstein. Do determinismo para o voluntarismo, estes paradoxos e estas viagens são bem a marca dos revisionismos. No reformismo “ético” não descansou: passou-se para as ideias do “sindicalismo revolucionário”. À sua personalidade convinha esta escolha. Escreve as Réflexions sur la violence (1906), que o tornaram famoso. Partidário da “guerra de classes” defende que só os mitos possuem força suficiente para mobilizar as massas. A sociedade capitalista estava condenada, o declínio via-se por toda a parte, mas ela só seria derrubada por ações violentas, nomeadamente as greves gerais. Desencantou-se, porém, com o “sindicalismo revolucionário”, porque não brotou revolução alguma dele e… passou-se para a Direita. No fim da vida manifestou entusiasmo pelos “homens de ação”: Lenine e…Mussolini! Sorel nunca foi realmente marxista, nem foi, é necessário dizê-lo, um puro fascista. Indiscutivelmente uma personalidade profundamente contraditória, mas notável com enorme influência num determinado período tumultuoso da história da Europa, em França, na Itália, em Espanha. O messianismo e a utopia proliferavam e atingiam todos os quadrantes da esquerda e da direita.

 Sorel defendeu que a revolução teria de ser provocada por uma vanguarda com recurso à violência; porém tal tática já fora defendida muito antes por August Blanqui, personagem que Marx censurou asperamente e não foi seguramente em Sorel que os bolchevistas se inspiraram, mas nas condições concretas da Rússia de Kerensky (que queria continuar a participação desastrosa da Rússia na Guerra Mundial) e do general Kornilov (que preparava uma ditadura miliar). Foi nos sindicalistas “revolucionários” que os escritos de Sorel obtiveram mais impacto, interpretados à luz da ação revolucionária triunfante bolchevique. Não teve influência alguma no pensamento político de Lenine e na agitação revolucionária dos sovietes.

 

Nessa época o positivismo que fora predominante no pensamento burguês-liberal sofria já ataques e rejeições de vários quadrantes da intelectualidade. O darwinismo social entrosado com vitalismos impregnava as correntes ideológicas. Verificou-se isso em Portugal inclusivamente. Tanto na direita conservadora como nas esquerdas. Conjugado com os nacionalismos fornecia um caldo favorável aos racismos. Desacreditado o racionalismo positivista e não sendo o marxismo a alternativa aceitável para a burguesia, abandonou-se o terreno a todo o tipo de irracionalismos. A “Destruição da Razão”, título de uma obra célebre de G. Lukács, estava em marcha. As críticas à “Razão instrumental”, “manipuladora”, “burocrática”, advenientes de Max Weber, por exemplo, encontram interpretações ideológico-políticas muito diferentes na Direita (Heidegger, Jünger, Klages) e na Esquerda (A Escola de Frankfurt- Horkheimer, Adorno), sendo que a receção e assimilação pelos públicos é confusa, isto é, parecendo que a Direita defende o mesmo que a Esquerda. A valorização dos mitos (em Heidegger os “novos deuses” que hão vir) não é uma originalidade de Sorel, embora este houvesse sido o escritor mais influente. Horkheimer e Adorno, observando nos anos trinta os efeitos danosos das novas mitologias, denunciariam nos seus escritos o papel destrutivo da Ilustração, isto é, o desempenho que coube à burguesia na destruição racionalista das antigas mitologias, substituindo-as, não obstante, por novas ainda mais negativas. No nazismo a mitologia expressa-se nas expressões “sangue”, “terra”, “heroísmo”. Esses apelos constituem ingredientes fundamentais dos movimentos de massas na Alemanha nazi: em políticas de “vida saudável” desportiva ou campesina, nos imponentes cenários que pareciam fascinar a juventude.

Em suma: Sorel era um efeito da mentalidade da época e da crise das ideologias, como foi, ele próprio, um catalisador. Os seus escritos, que em nada se sustentavam na teoria de Marx, foram inegavelmente muito influentes no sindicalismo revolucionário anarquista que disputava a hegemonia com a doutrina marxista-leninista no espaço ideológico e político dos movimentos operários europeus nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. Mussolini extraiu das ideias de Sorel o que lhe convinha.

Otto Bauer – 1881-1938.

 Filósofo austríaco. Colaborou com Kaustky na revista por este dirigida, Die Neue Zeit. Em 1907 publicou um estudo pioneiro no marxismo sobre a questão das nacionalidades e do nacionalismo, a pedido de Viktor Adler. Fundou com Karl Renner (importante estudioso do Direito burguês-liberal) a revista teórica do partido social-democrata Der Kampf. Em 1936 publicou um importante estudo sobre o fascismo do qual daremos notícia aqui. O chamado “austromarxismo”, o qual mais tarde influenciou a “Nova Esquerda” e o “eurocomunismo”, deveu-se a Bauer, Adler, Renner e Rudolh Hilderding (estudos importantes sobre a fase imperialista do capitalismo e a tese do novo “capitalismo organizado”) e Friedrich Adler, todos importantes dirigentes do partido social-democrata (revisionista) da Áustria. Neokantianos como Mach e Avenarius foram igualmente influentes; receberiam uma crítica contundente por V.I. Lenine, no célebre “Materialismo e Empiriocriticismo”. Otto Bauer censurou asperamente a Revolução bolchevique, opondo-lhe uma “terceira via” não violenta, não dirigista e não burocrática, no seu entender; na prática, colaborou ativamente no esmagamento das ações revolucionárias da classe operária. Bauer foi de facto um revisionista que forneceu argumentos aos inimigos dos comunistas.

Assim como não é correto desprezar obras suas tão notáveis como, por exemplo, A Questão das Nacionalidades e a Social-Democracia. O problema das autonomias e independências nacionais era, de facto, um problema real e candente nas condições concretas daquela época antes da Primeira Guerra e durante o período entre as Guerras Mundiais. O nazi-fascismo interpretou-o a seu modo: chauvinismo militarista, expansionista e imperialista, racista e colonialista. A Áustria havia sido a cabeça de um império que ruiu com a Primeira Guerra. Por outro lado, os partidos social-democratas dividiam-se tanto por causa da questão das nacionalidades e nacionalismos, como, por consequência, a favor ou contra a intervenção dos seus países na Primeira Guerra (Mussolini começa, como dissemos, por estar contra para depois se passar para a trincheira dos intervencionistas por causa, precisamente, do nacionalismo, porque a questão da unidade nacional italiana era de facto um problema que não estava de todo resolvido). A atitude das social-democracias de oposição ativa às revoluções operárias, porque as achavam sempre de inspiração bolchevique, era usual, a sua marca distintiva digamos assim (verificou-se na Alemanha, na França inclusivamente da Frente Popular), mas não é por isso que mereçam de modo algum ser colocados na mesma “panela” com os nazi-fascismos (alguns grupos radicais designavam-na como “social-fascista”). Otto Bauer defendeu que a “Nação” e o nacionalismo eram termos e temas que serviam melhor a mobilização das massas que a luta de classes. Em que é que esta tese é marxista, se não na mais espúria revisão? Por outro lado, o seu texto «Sobre o Fascismo» de 1936, um escrito notável e pioneiro sobre os movimentos de massas fascistas, Bauer não sustenta em momento algum qualquer similitude com o “bolchevismo». Pelo contrário, sustentava então que a principal tarefa do nazi-fascismo era destruir o movimento operário, nomeadamente o reformismo.

 

Os «revisionistas históricos»

No fim dos anos oitenta alguns historiadores provocaram uma acesa polémica nos círculos académicos franceses e alemães. O assunto prendia-se com as comemorações do bicentenário da Grande Revolução Francesa, porém, depressa alastrou para o real objetivo: atacar o socialismo e o projeto comunista e dar assim uma mão à ofensiva contra a URSS. Fou de facto uma manobra concertada. Surpreendeu e indignou o comportamento de alguns desses historiadores

A corrente do “revisionismo histórico”, iniciada nos anos 80, acusa as revoluções de todos os males, a começar na Revolução Francesa, salvaguardando cuidadosamente a Revolução Americana que, aliás, lhe é anterior (pois esta não afetara os interesses dos latifundiários esclavagistas). Coloca na França, portanto, as origens das revoluções socialistas (ou seja: a revolução russa de 1917, o “bolchevismo”), segundo eles foi ela que estendeu o Terror e os jacobinos a todas as revoluções comunistas.

O revisionismo histórico na sua vertente mais reacionária inculpa os comunistas de todos os males do mundo, não somente o estalinismo, mas o marxismo.

Deste modo encontram-se todos à mesma mesa: os críticos antiliberais reacionários do século dezanove, os revisionistas históricos contemporâneos e os críticos “radicais” do Iluminismo. Quando Marx e os marxistas criticam o liberalismo com raízes nas Luzes, colocam-se nos antípodas da crítica reacionária que ainda hoje perdura. A crítica “radical” de alguns intelectuais alemães contemporâneos à Ilustração não advém de posições marxistas. São neo-anarquistas que fomentam nos seus leitores incautos a confusão do anarquismo com o marxismo.

Ernst NOLTE

O caso de Ernst Nolte (1923-2016) é elucidativo. Esta figura principal do «revisionismo histórico» germânico foi aluno e,depois, amigo de M. Heidegger e de Eugen Fink, filósofos nazis como se sabe. Construiu a ficção de que o nazismo foi um movimento reativo ao bolchevismo e, daí, que os campos de extermínio tivessem sido uma repetição consequente à “política de extermínio” de Estaline na Ucrânia. O “genocídio de uma raça” correspondia ao “genocídio de uma classe” (os kulaques). Gozando de prestígio intelectual provocou uma intensa querela afirmando que a Alemanha, o seu povo, necessitava de ser reabilitada da imagem que o regime nazi lhe colara até à data (anos 80), e que merecia um novo nacionalismo, distinto, porém, do nacionalismo de Hitler. Afinal, a Alemanha (leia-se: o regime Nacional-Socialista) respondera com a guerra à amaeaça da invasão dos vermelhos…Historiadores e filósofos reputados (Habermas, Benjamin Weber, Eberhard Jäckel) caíram-lhe em cima, argumentando com razão que estas teses mirabolantes serviam um propósito voluntário ou involuntário: justificar os horrores perpetrados pelos nazis. Pelos vistos não desapareceram do arsenal anticomunista dos pequenos Rodrigues dos Santos deste pequeno mundo.

Robert CONQUEST

  Uma das figuras de proa dos «revisionistas históricos», o historiador britânico Robert Conquest8 1917-2015) publicou alguns livros de grande sucesso nos círculos neo-liberais, nomeadamente «O Grande Terror» (1968) e Harvest of Sorrow (1986), ambos largamente aproveitados em documentários para televisão e abundantemente citados pelos seus confrades. Deu um importante contributo para a reeleição de Reagan e para a corrida aos armamentos com o livro Que fazer quando os russos chegarem: um manual de sobrevivência, uma autêntica peça de terrorismo psicológico. Escreveu discursos para Margaret Thatcher e deu-se muito bem com belicista Condoleeza Rice. Tudo bons amigos. Foi, evidentemente, galardoado com a “Medalha Presidencial da Liberdade” em 2015, por Georges W. Bush. Aderira ao Partido Comunista britânico em 1937, do qual, obviamente se afastou em 1945. Na realidade fora espião na Segunda Guerra Mundial. Manteve-se a trabalhar num departamento de contrainformação (IRD) dos serviços secretos ingleses. Quais foram as fontes principais dos seus livros sobre a coletivização e a fome na Ucrânia? Foi buscar informação e testemunhos aos antigos efetivos da divisão Waffen-SS Galitchina  e do “Exército Inssurrecional Ucraniano” que ajudou a fazer a “limpeza étnica”!

Elementos para uma história da violência

A propaganda anti-comunista procura instalar a convicção de que a violência está associada ao comunismo. Na realidade, a violência dos pobres e oprimidos foi sempre provocada pela opressão e pela pobreza que esta cria. A revolta dos escravos e da plebe na Antiga Roma, dos camponeses no feudalismo, do povo de Paris em 1789…Os jacobinos foram inegavelmente violentos. E O Antigo Regime? A Reacção restauracionista não foi menos brutal que o governo pequeno burguês dos jacobinos que promoveu os ideais iluministas liberais da Igualdade. A guerra que o império inglês conduziu contra as colónias norte-americanas não foi menos brutal. A reacção da Vendeia, durante a Revolução francesa, fomentada pelos aristocratas foragidos conluiados com os britânicos (que forneceram navios e armas) fez muito mais mortes que todos os guilhotinados pela ditadura jacobina.

A Primeira Guerra Mundial foi muitíssimo mais violenta que a insurreição bolchevique na Rússia de 1917 (com escassas vítimas). O regime dos czares foi uma longa história de opressão e brutalidade sem limites.

Os anarquistas começaram por aplicar a “ação direta” (recorrendo a táticas de violência) para mais tarde, depois de repressões sobre os seus efetivos, optarem pelo “sindicalismo revolucionário”, que acreditava preparar pela propaganda as massas para a greve geral que arruinaria o capitalismo. Alguns atos cometidos por grupos anarquistas radicais ou isolados das massas provocaram graves consequências. No entanto, o anarquismo em geral era e é pacifista (o anarquismo libertário proudhoniano). E, como se sabe, não teve origem na Teoria de Marx.

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, todos os países de regimes liberais reprimiram violentamente as associações e greves operárias. A Grã-Bretanha, dita democracia exemplar, muito embora houvesse recorrido menos que outras nações à repressão violenta direta dos movimentos operários, usou-a desde o século dezanove. Lembre-se nomeadamente a extrema violência exercida sobre o povo da Irlanda. Os mineiros reprimidos pela senhora Thatcher também se recordam…

Se a violência cometida pelos bolcheviques no fogo das guerras civis está inscrita na matriz ideológica (a tal “ideia comunista”), segue-se logicamente que os crimes cometidos pelos liberais estão inscritos na “ideia liberal”; pelos sociais-democratas na “ideia social-democrata”, pelos cristãos das cruzadas, inquisição e conquistas ultramarinas, na “ideia cristã”, e assim por diante. O raciocínio perde todas as escalas de valores

A tática do terror

Em 1918 surgiram com a máxima brutalidade os Frei Korps, embrião do futuro partido nazi, unidades paramilitares de direita. Ataques violentos à propriedade, assassinato de chefes políticos e militares burgueses) foi propagandeada (e não poucas vezes posta em prática) por alguns anarquistas, nunca pelos social-democratas marxistas ou reformistas. O SPD Partido Social-democrata da Alemanha desde logo censurou e demarcou-se de tais táticas; mesmo assim não se livrou da acusação: foi ilegalizado a seguir à tentativa de assassinato de imperador Guilherme I. Algumas organizações radicais de anarquistas eram constituídas por pequenos homens de negócios frustrados, e aventureiros do lumpemproletariado, que ofereciam à polícia a justificação que esta desejava para reprimir a esquerda. A grande maioria de anarquistas rejeitava o homicídio como modo de atuação política, ainda que alguns homicídios lhes parecessem justificados.

A doutrina fascista nada tem que ver com o marxismo e as revoluções populares socialistas. Teve como antecedentes não Marx, mas Maurras (1868-1925), não o comunismo, mas o “nacionalismo integralista”. Não os partidos operários socialistas, mas a Action Française. Não os filósofos socialistas do século XIX (Saint-Simon, Owen, Cabet, Marx, etc.), mas De Maistre e Bonald. Combatem a república liberal não em nome dos ideais da Comuna de 1871, mas contra a democracia. Vem, sim, dos “feixes” (fasce) de Milão (“feixe democrata cristão”). No início da Primeira Guerra Mundial surgiram os “feixes de combate” chauvinistas, a favor da intervenção italiana. Em 1917, denominam-se “feixe de defesa nacional”. Mussolini vem do feixe milanês criado em 1919, que se funde com o partido nacionalista. Os nacionalistas de direita gozam do apoio de importantes intelectuais, contudo estes eram pouco numerosos. Dispõem de uma doutrina: unificar a multidão sob a unidade do Estado. Ter-se-á constituído já em 1914 ideologicamente por essa altura. Para a formação dessa atmosfera ideológica contribuíram decisivamente D´Annunzio, Barrès, Sorel, Ezra Pound. Exaltam a nação e a violência das massas, recusam o marxismo que odeiam, cultivam o irracionalismo, manipulam os medos burgueses pela agitação social, exigem a restauração da ordem. «Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado», Mussolini. Uma amálgama doutrinária sem teoria.

O totalitarismo

Em Itália o fascismo mostrou-se desde logo como reação autoritária contra o Estado liberal porque não sabia impor ordem nos sindicatos livres operários. O Estado liberal baseia-se teórica e juridicamente na “livre iniciativa do indivíduo”, o Estado fascista diz-se “orgânico” na “colaboração e integração das classes”. A “unidade do Povo” exprime-se na Nação (“A Nação não se discute”, declarava Salazar, parafraseando Mussolini). Artigo I da Carta do Trabalho (1927): «a Nação é um organismo dotado de existência, objectivos e meios de acção superiores em poder e duração aos dos indivíduos isolados ou em grupos que a compõem…Unidade ética, política e económica, realiza-se integralmente no Estado fascista».

A expressão «Estado totalitário» é lançada pela primeira vez pelo discurso de Mussolini em 28 de Outubro de 1926. A expressão e a doutrina do “totalitarismo” têm, portanto, origem fascista. Correspondem integralmente, e por vezes literalmente, às narrativas que fizeram de si mesmos regimes fascistas em países diversos (Alemanha, Hungria, Roménia, Croácia, Portugal).

O Estado fascista, o “Corporativismo”, dirige não só tempo de trabalho como o tempo depois do trabalho. Organiza, controla e vigia a vida do trabalhador. Submissão absoluta e coerciva do operário.

Aceitam-se as classes mas integradas em “corporações”. Abolida a independência e separação de poderes (Quem manda é o Executivo- o seu chefe-, o parlamento ou é abolido ou esvaziado de qualquer poder), anulam-se as liberdades políticas, as polícias e os juízes vigiam, prendem e torturam os suspeitos de delitos de opinião. A noção liberal (e os direitos correlativos) da esfera privada da vida dos indivíduos é eliminada. Proíbe-se o sindicalismo autónomo, considerado principal fator de desordem, os sindicatos são integrados no Estado ou abolidos simplesmente. Não se admite o conflito de qualquer género, mesmo para os patrões organizados fora do Estado. Centralização administrativa absoluta. Não se elege, nomeia-se. O Duce (ou o Führer, ou Presidente do Conselho) é que sabe, pensa, manda. Para o nazismo racista Volk (Povo) é sinónimo de Nação, enquanto comunidade da mesma raça. “Tu não és nada, o teu povo é tudo» (A. Hitler). Se o racismo não guiou a ação de alguns regimes fascistas, como no nazismo, ele, todavia, esteve manifesto naqueles países que detinham colónias, como se verificou com o colonialismo italiano e português.

O mito da Nação

O desenvolvimento contraditório da Modernidade produziu novos mitos e utopias, como bem esclareceram Horkheimer e Adorno na obra conjunta «Dialética da Ilustração». O mito do Progresso contínuo que viria trazer a felicidade coletiva pela mão do Capital foi desacreditando-se pela prática e entrou em colapso com a hecatombe da Primeira Guerra Mundial. É então que o mito da “Nação” vem competir com a utopia messiânica de uma Revolução mundial que realizaria de uma vez por todas as aspirações à paz e à igualdade universais. Os nacionalismos encontram um solo fértil no fim dos impérios austro-húngaro e otomano e oportunistas de todos os matizes aproveitam a fragmentação para provocar divisões em comunidades que antes conviviam com os seus diferentes credos religiosos, tradições e culturas, acicatam ódios entre vizinhos, fomentam vendettas. É nos países, alguns de recente formação, onde as burguesias necessitam de um mercado interno unificado, que a aspiração à independência é alimentada por doses maciças de propaganda a favor de nacionalismos “redentores”. É nessa atmosfera, sob esses interesses particulares, que o nacionalismo italiano se denomina «fascismo».

Nos anos precedentes à Primeira Guerra Mundial encontram-se traços de nacionalismos associados para efeitos de justificação ao racismo, em países que aparentemente não se esperaria: Na Grã-Bretanha de Churchill, nos EU de Theodore Roosevelt. A Primeira Guerra revigora esses racismos que visam «naturalizar» ou «biologizar» as diferenças e excluir o inimigo da verdadeira espécie humana: os teutónicos a ocidente, os “genuínos” japoneses a oriente contra os «brancos» e os «amarelos». Deste modo ficavam justificados os morticínios de massas, bombardeamentos de civis, espoliação de territórios, escravaturas.

O antissemitismo é geral, desde a Europa aos EUA, mas o racismo nazi antijudaico é adaptado: podem ser outras raças e outros povos. O que importa é estabelecer uma diferenciação entre autóctones e estrangeiros, puros e impuros, superiores e inferiores, senhores e escravos. Nos EUA são os negros.

As potências do EIXO

 Os movimentos e partidos fascistas e nazis apoderaram-se do poder político por diversas formas, por via eleitoral, por insurreições e por golpes militares. A via eleitoral, por sua vez, foi antecedida pela violência, desordem, das hostes fascistas e nazis. Destabilização típica, “estratégia da tensão”, técnicas hoje bem conhecidas. Os partidos ou movimentos fascistas, por conseguinte, podem tomar o poder por vias diversas, ou, pelo menos, impedir a formação, por via de eleições livres, de um governo de esquerda.

O Japão com uma moderna industrialização, vencedor da guerra com a Rússia, necessitava de recursos, matérias – primas e mercados. A China era o alvo prioritário, seguir-se ia depois a Coreia, a Ásia. As forças liberais e pró-ocidentais, perderam o apoio popular perante a impetuosa corrente chauvinista, militarista e imperialista, que o divino imperador abençoou.

A economia mundial desmorona-se em 1929. Vastas ondas de desemprego assolaram todos os países em todos os continentes. Multidões de trabalhadores sem emprego, desesperados, deambulavam pelas avenidas de Berlim. A crise global do capitalismo provocou o início das revoltas anti coloniais e os impérios começaram a abrir brechas irreversíveis. O liberalismo mostrava-se incapaz de solucionar a crise, parecendo mesmo agravá-la, e calar o descontentamento. A leste, todavia, a União Soviética vencera invasões e guerras civis e mostrava-se quase imune ao colapso quase iminente da economia mundial, com o sucesso dos seus planos quinquenais. A Suécia salvava-se também da hecatombe com governo sociais-democratas e um pioneiro Estado Social. O capitalismo do seculo XIX parecia ter chegado ao fim. Realmente entrara na fase dos monopólios e, por isso, exigia novas formas de dominação e regulação. O fascismo tornara-se uma solução, com alguns sucessos contra o desemprego na Itália e Alemanha.

As instituições liberais sobreviveram bem até ao início da Primeira Guerra Mundial. À época quase todos os países europeus tinham regimes baseados em eleições e instituições parlamentares. Entre o fim da Guerra e a Depressão decorreu um período de estabilidade social, com satisfação de reivindicações operárias e fortalecimento dos sindicatos.

 No início dos anos trinta tudo isso terminou ou foi profundamente abalado. Com a Grande Depressão vai conhecer-se a ascensão do nazismo e do fascismo.

Uma onda reacionária parece varrer os valores que até há poucos anos prevaleciam nas burguesias em geral e nos trabalhadores: sistemas eleitorais, parlamentos com amplos poderes, direitos e liberdades ´públicas e individuais, incluindo a greve, movimentos trabalhistas, importantes partidos sociais-democratas, partidos comunistas minoritários mas beneficiando dos êxitos da URSS. Tanto partidos burgueses como partidos com base operária defendiam os valores herdados do iluminismo e do liberalismo, exceto a Igreja católica, último bastião do Antigo Regime, adversária dos valores da razão e das liberdades e da modernidade, assim como alguns filósofos e artistas que vociferavam com a modernidade e contra os burgueses e judeus e contra as massas.

Mas tudo isto recua no início dos anos trinta. A ascensão do partido nazi difunde a Nova Ordem.

O nazi-fascismo não foi uma reacção de defesa contra a União Soviética, de “justificado” receio que esta “exportasse” a revolução pelas armas. Foi um ataque em toda a linha e com antecedentes. Não foi exclusivamente o comunismo, a Revolução Russa, que provocou o nazi-fascismo, a adesão e viragem das burguesias liberais para a solução nazi-fascista. Haviam falhado as revoluções na Europa central, os partidos comunistas eram minoritários e nalguns países francamente irrisórios, a social-democracia pelo menos até à década de trinta era o esteio dos regimes liberais por toda a Europa do norte e centro, com destaque para a Inglaterra e França. Portanto donde vinha, e veio, o perigo? Da Direita. Neste polo nem todos eram evidentemente, fascistas, alguns vieram até a ser reprimidos pelo nazi-fascismo, mas eram todos antiliberais, advogando, e instalando, governos fortes, autoritários, com militares sempre que estes compunham o centro da repressão (nomeadamente na América latina, Espanha e Portugal). Não eram pois as revoluções comunistas o perigo para as instituições e valores liberais. Não foram elas que derrubaram os governos liberais. A subversão veio de dentro da burguesia, dos setores hostis à força a participação dos movimentos trabalhistas, às conquistas operárias, à luta de classes. Os conflitos sociais fortaleceram as forças da repressão, converteram-nas em bastição defensivo da ordem pública. O anticomunismo predominava, expressão do desconforto pela diminuição da taxa de lucro, pelos salários demasiado elevados na ótica dos capitalistas. Cresciam doutrinas corporativistas para integrar as classes sociais, aceitando-se a sua existência mas integrando-as em organismos unificadores. Estes conservadores não eram de início fascistas mas foram se inclinando conforme os sucessos da Alemanha nazi. Porém embora com raízes mais antigas, nalguns casos sob forte inspiração dos valores tradicionalistas e reacionários da Igreja católica, as democracias orgânicas (o Portugal de Salazar), todos tinham em comum com o nazi-fascismo o anticomunismo e a vontade de domesticar a classe operária, proibindo as greves que permitiam elevar os salários e diminuir as horas de trabalho. A igreja católica não sendo fascista, preferindo a apoiando regimes corporativos, acabou a virar-se decididamente e explicitamente para os nazi-fascismos, como se viu durante a guerra civil espanhola. Odiava o “comunismo ateu”. O “milagre” de Fátima insere-se aí.

Salazar dirá em 1940 que ele e Hitler estavam «ligados pela mesma ideologia» (citado por Habsbawm, p. 122, Delzell, 1970, p.348)

Os nazi-fascistas não possuíam uma doutrina política coesa e consistente. Nem eram em toda a parte puramente “tradicionalistas”, excepto naquilo que lhes convinha (os grandes proprietários rurais, latifundiários vindos do Antigo Regime)e não se confundiam com os partidos conservadores, ainda que boa parte destes os apoiassem. Eram ou apresentavam-se como “revolucionários”, com uma Ordem Nova para a Europa.

Os comunistas caracterizavam certeiramente a nova fase, superior ou suprema, do capitalismo, como imperialismo e formação e dominação dos monopólios, decorrendo daí a necessidade e urgência das revoluções socialistas. Esse estádio gerou, porém, não as revoluções socialistas, mas as “revoluções” nazi-fascistas, essas sim adequadas ao novo estádio.

As origens de Benito Mussolini. A falsidade do seu marxismo que ele não conheceu. Nem ele nem muito menos Hitler.

Ideologicamente o fascismo italiano foi a reacção chauvinista contra o enfraquecimento do Estado (liberal e com elementos socialistas), considerado socializante e, obviamente, contra o socialismo e o comunismo.

O termo vem do século XIX: feixe (fasce) em Milão “feixe democrata cristão”. No início da Primeira Guerra Mundial surgiram os “feixes de combate” adeptos da intervenção italiana. Em 1917, foi criado o “feixe de defesa nacional”. Mussolini vem do feixe milanês criado em 1919. Esta organização funde-se com o partido nacionalista. Os nacionalistas de direita gozam do apoio de importantes intelectuais mas eram pouco numerosos. Dispõem de uma doutrina: unificar as massas sob a unidade do Estado. Ter-se-á constituído já em 1914 ideologicamente por essa altura, ou culturalmente, sob influência de D´Annunzio, Barrès, Sorel, Ezra Pound e outros intelectuais célebres. Proclamam a exaltação da nação e da violência das massas, a recusa do marxismo, ou extraem deste fórmulas que possam agradar a operários. Por exemplo: a restauração da ordem do todo sobre o indivíduo, nada tem demarxista. «Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado», Mussolini. Culto da personalidade e da nação mitologizadas. Que tem isto a ver com o marxismo?

Mussolini na juventude recebeu a influência do seu pai o qual fora socialista e do “sindicalismo revolucionário” de Georges Sorel (escritor francês, 1847-1922) e em 1905 dirige um jornal de esquerda. Contudo, todo o seu comportamento, desde jovem, tinha sido de um tipo arruaceiro, arrivista. Uma personalidade atraída pela “ação direta”, pela tática da greve geral insurrecional e pelas técnicas de agitação e oratória populista e demagógica. Afirmou que conhecera Lenine na Suíça por volta de 1902 mas nada prova que este o conhecesse e menos ainda que o elogiasse (citação). Trabalhou no jornal L´Avvenire del Lavoratore e foi secretário da União dos Trabalhadores italianos em Lausanne. Em 1908 foi secretário do partido trabalhista de Trento. Em Milão, em 1910, editou o jornal semanal Lotta di classe. Chefiou o jornal socialista (social-democrata) Avanti! Tendo apoiado a intervenção na Guerra foi expulso. O jornal era financiado pelo governo britânico e infiltrado por agentes deste, para assim defender o intervencionismo ao lado da Inglaterra. Em 1910 organiza os Fasci di Combatimento, embrião do Partido fascista, com bandos de rufiões. Serviu-se do socialismo para arregimentar socialistas. Mussolini foi um traidor, prestou serviços às polícias britânica e italiana e provocou a desordem social para assim impor a ordem fascista contra a classe operária. Na Itália o fascismo foi a contra-revolução,« (…) foi alcandorada ao poder por uma conspiração de altas patentes militares, políticos nacionalistas e importantes homens de negócios, não porque tinha de se encontrar uma solução para a desintegração económica, mas porque os grandes negócios queriam partir a espinha às organizações da classe trabalhadora (…)» p. 224, W. Bruce Lincoln, Red Victory:A History of the Russia Civil War, 1918-192

A Itália estava dividida, uma reunificação dificultada pelos numerosos dialetos, tradições e autonomias regionais, diferentes ritmos de desenvolvimento que ainda hoje persistem, lenta introdução das relações sociais de produção capitalistas nos campos. Sob uma intensa propaganda nacionalista o regime fascista de Mussolini respondia à necessidade do capital de um mercado interno e, por outro, à conservação de estruturas agrárias latifundiárias e arcaicas. Serviu essa aliança, apoiando-se nos medos da pequena lavoura pelos efeitos da modernização e, sobretudo, pela “colectivização” esgrimida pelos socialistas e anarquistas.

É verdade que não podemos desligar o acontecer histórico do comando de determinadas personalidades. Mussolini soube organizar e dirigir um movimento de massas que o alcandorou à chefia absoluta de uma ditadura com inegável apoio social. Possuía o tal carisma que Weber previra para as novas lideranças do século capitalista. Fora contra a guerra e logo mudara de opinião. Cobrira-se de prestígio nos combates. No termo da guerra o antigo socialista passou a fura greves e agressor de pobres operários que pediam pão. Com isso ganha a simpatia dos grandes proprietários que lhe enchem os bolsos de dinheiro. Torna-se um homem riquíssimo, tal como sucederá com Hitler. Com financiamentos, nacionais e estrangeiros, arregimenta antigos oficiais e soldados desmobilizados, veste-os com “camisas negras” e dedica-se a assassinar sindicalistas, comunistas e antigos camaradas socialistas. Em 1922 a Federazione industriale, dos patrões, financia a 2Marcha sobre Roma”. Foi, portanto, o homem escolhido pelo capital para manter a taxa de lucro, baixando os salários e aumentando o tempo de trabalho. O Estado fascista assume essa missão: diminuição dos impostos e benefícios fiscais. O movimento operário havia sido forte, mas não tão forte que propusesse tomar o poder. Era preciso “quebrar a espinha” aos sindicatos. Não foi outra a finalidade do Estado fascista, na Itália e em toda a parte. Que viria a acontecer na Alemanha? No fundo, a mesma coisa. Era necessário elevar a taxa de lucro e eliminar consequentemente os direitos conseguidos na República de Weimar. Surgem os terroristas das SA. Em 1930 os ricos financiam o partido nazi e tornam Hitler um homem rico e poderoso. Com grandes meios e o terror nas ruas, os nazis obtêm 37% dos votos, da maioria dos conservadores, da pequena burguesia e dos desempregados. Não da classe operária que se mantem leal aos comunistas e social-democratas. Quando nas eleições seguintes os nazis descem significativamente na votação, o partido comunista alemão propõe aos dirigentes social-democratas uma coligação contra os nazis. A resposta é “não”. Lembremos que em 1924 o ministério do interior entregue aos social-democratas na República recorre ao exército (e fecha os olhos convenientemente à intervenção das hordas para-militares nazis) para reprimir movimentos grevistas e manifestações de rua, aprisiona 700 operários e proíbe os jornais do PC). O que fazem os nazis logo que Hitler é nomeado chanceler? O mesmo que Mussolini e o mesmo que Salazar mandará fazer em Portugal. As leis sobre o salário mínimo, as horas extraordinárias, as regulamentações sobre a segurança no trabalho, foram revogadas imediatamente; os salários baixaram 25% a 40% (50% na Itália). Privatizaram-se empresas rentáveis. Distraiu-se a populaça com os Jogos Olímpicos e espetáculos à romana. Para fugir à recessão provocou-se a guerra, construíram-se estradas modernas para os tanques. A IGFaber, a KRUPP e outras empresas monopolistas esfregaram as mãos de contentamento. A escravatura que chegava do Leste era um manancial…

Diferentes as ditaduras na Itália, Alemanha, Portugal, Hungria, Roménia, etc.? Sim, mas realmente idênticas nas finalidades e nos meios. Como é que o fascismo que não possuía de facto uma doutrina, mais do que chauvinismo e racismo (na Alemanha), evoluíra da filosofia de Marx? Pura calúnia.

 

Os socialistas do século XIX defenderam as ideias e instituições liberais progressistas, não o liberalismo económico e os Estados capitalistas tal como se formavam. Todos queriam nos seus programas o socialismo, o fim do capitalismo e das classes sociais e do Estado. O que os dividiu foram condições diferenciadas: na Alemanha de Bismark o partido socialista operário beneficiou das conquistas do sufrágio e das liberdades e por isso enveredou pelo revisionismo e pela social-democracia e dividiu-se novamente no deflagrar da 1ª Guerra Mundial. As condições concretas da Rússia czarista eram completamente diferentes.

Aquilo que distinguia os socialistas no século dezanove dos restauracionistas antiliberais era claro: os primeiros queriam o progresso, os segundos o regresso ao Antigo Regime. A Reacção restauracionista não foi menos brutal que o governo pequeno burguês dos jacobinos que promoveu os ideais iluministas liberais da Igualdade. A guerra que o império inglês conduziu contra as colónias norte-americanas não foi menos brutal. A reacção da Vendeia, durante a Revolução francesa, fomentada pelos aristocratas foragidos conluiados com os britânicos (que forneceram navios e armas) fez muito mais mortes que todos os guilhotinados pela ditadura jacobina.

A 1ª Guerra foi muitíssimo mais brutal que a insurreição bolcheviquessa na Rússia (com e foiescassas vítimas) e foi uma guerra entre capitalistas e impérios em disputa. A guerra na Rússia pelos Brancos e pelas potências estrangeiras foi mais brutal que a tomada do palácio de Inverno em 1917.

O que distinguia os partidos socialistas (antes e mesmo depois da cisão) era a propriedade privada capitalista. O modo de produção. E isto nunca foi o programa dos nazi-fascistas.

As lutas do proletariado no século XIX exprimiram-se de várias e diferentes formas, com protagonistas diferentes. O marxismo impôs-se em alguns países mas não em outros contra outras correntes de pensamento: os anarquismos, o proudhonismo, o sindicalismo revolucionário. Com a formação de partidos socialistas inspirados no marxismo, o ódio da classe capitalista dirige-se preponderantemente contra o marxismo.

A Associação Internacional de Trabalhadores (IWMA) proporcionou serviços bem reais aos trabalhadores, empenhada numa mundividência assente na classe e não em princípios raciais ou étnicos. Numa altura em que muita gente, se não mesmo a maioria, aceitava as diferenças raciais como demonstradas “cientificamente”, o contra-exemplo da Associação destaca-se como clara exceção.” (Pelz, William A., História do Povo da Europa Moderna, Edi. Objectiva, Lisboa, 2016, p.145.

O Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), 1878, foi dirigido pelos marxistas August Bebel e Wilhelm Liebknecht, assassinados pelos nazis. Como se atrevem a afirmar que o nazismo teve origem no marxismo?

Os anarquistas começaram por aplicar a “acção direta” (recorrendo a tácticas de violência) para mais tarde, depois de repressões sobre os seus efetivos, optarem pelo “sindicalismo revolucionário”, que acreditava preparar pela propaganda as massas para a greve geral que arruinaria o capitalismo. A Confédération Générale du Travail (CGT) foi  fundada por um anarquista.

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, todos os países de regimes liberais reprimiram violentamente as associações e greves operárias. A exemplar Grã-Bretanha usou menos da repressão direta, porém reforçou substancialmente as polícias e os espiões.

Os dois governantes efetivos da Alemanha desde 1916, Generais Hindenburg e Ludendorff, foram importantes apoiantes do nazismo. Que tiveram de comum com o marxismo?

Se os crimes cometidos por revolucionários no fogo das guerras civis estão inscritos na matriz ideológica (a tal “ideia comunista”), segue-se logicamente que os crimes cometidos pelos liberais estão inscritos na “ideia liberal”; pelos sociais-democratas na “ideia social-democrata”, pelos cristãos das cruzadas, inquisição e conquistas ultramarinas, na “ideia cristã”, e assim por diante. O raciocínio perde todas as referências e acaba-se no mais completo pessimismo para o qual todas as ideias são nefastas. Na realidade as ideias resultam de condicionalismos históricos nos quais as classes e os seus conflitos assumem um papel fundador. O cristianismo e o liberalismo desempenharam um papel progressista, as suas mensagens não podem de modo nenhum ser a doutrinas criminosas. Revelar as suas origens subversivas no contexto das épocas é a atitude científica básica e ter em consideração aquilo que permanece de favorável para as lutas de emancipação dos trabalhadores e de toda a humanidade. Perigosas são aquelas doutrinas que em nada beneficiam, pelo contrário pretendem  justificar a liquidação física de povos e de classes, e proíbem os direitos e liberdades mais elementares.

Em 1918 surgiram com a máxima brutalidade os Frei Korps, embrião do futuro partido nazi, unidades paramilitares de direita.

A tática do terror (ataques violentos à propriedade, assassinato de chefes políticos e militares burgueses) foi propagandeada (e não poucas vezes posta em prática) por alguns anarquistas, nunca pelos social-democratas marxistas ou reformistas. O SPD Partido Social-democrata da Alemanha desde logo censurou e demarcou-se de tais táticas; mesmo assim não se livrou da acusação: foi ilegalizado a seguir à tentativa de assassinato de imperador Guilherme I. Algumas organizações radicais de anarquistas eram constituídas por pequenos homens de negócios frustrados, e aventureiros do lumpemproletariado, que ofereciam à polícia a justificação que esta desejava para reprimir a esquerda. A grande maioria de anarquistas rejeitava o homicídio como modo de atuação política, ainda que alguns homicídios lhes parecessem justificados.

 

Campos de concentração

A burguesia imperialista sempre tentou apagar e denegrir o feito histórico da vitória do povo soviético e do seu Exército Vermelho sobre as hordas nazis-fascistas ( digo fascistas também, porque nos exércitos invasores colaboraram ativamente centenas de milhar de fascistas voluntários uns, menos outros, de vários países europeus, espanhóis, romenos, ucranianos, franceses, italianos, portugueses), portanto, desta forma e com mui relativas diferenças, a guerra e as invasões, as atrocidades, não foram apenas dos nazis alemães, mas também dos fascistas do resto da Europa. Sob sacrifícios quase inenarráveis, milhões de vítimas militares e civis, os comunistas e os povos da URSS desempenharam o papel decisivo para a derrota do nazi-fascismo (os fascistas nos seus países, os seus regimes, foram simultaneamente derrotados, com a triste exceção das ditaduras de Franco e Salazar).

Como se atrevem a comparar os campos de concentração na União Soviética (que não se negam, nem se minimizam) com os 27 campos principais e mais de 1100 campos adjacentes dos nazis que o Exército Vermelho foi o primeiro a libertar? Quem foram aqueles que os nazis começaram por prender nesses campos e para os quais começaram primeiramente a construir em 1933? Para os comunistas e outros opositores. Nesses anos foram aprisionados, torturados e na sua maioria eliminados, 200 mil alemães! Os judeus apenas 1938 começaram a constituir a maioria dos contingentes. Campos de escravatura, de trabalho forçado ( cerca de 6 mil de combatentes e refugiados da guerra civil de Espanha). Para quem trabalhavam? Para os grandes monopólios alemães: IGFarben – Bayer, AGFA, BASF e outras empresas, o grande consórcio de armamento Rheinmetall, que incluía a AEG, ou a Blaupunkt; a Bata; Krupp, Heinkel, BMW, Volkswagen, etc. A quem beneficiou, portanto, o regime nazi? Há dúvidas sobre a sua finalidade?

No Outono de 1944 o número de trabalhadores forçados estrangeiros atingia quase 8 milhões.

Seguiram-se as câmaras de gás e os fornos crematórios. Com o gazeamento da “Solução Final” de quase 6 milhões de judeus

Sob a alçada de Estaline cometeram-se crimes indubitavelmente. No entanto, a abertura dos  arquivos da polícia após o colapso da URSS traçam um quadro muito diferente do que as mentiras que se propagam. Comparem-se as deportações em massa, os campos de concentração, os julgamentos políticos, que os governos demoliberais praticaram desde os alvores do século XIX pelo século XX adiante e com os monstruosos crimes praticados pelos regimes nazi-fascistas e não apenas durante a Segunda Guerra Mundial, mas no decurso do século passado (Chile, Argentina). A comparação não serve para justificar os meios empregues sob o mando de Estaline, porém dá-nos uma relação esclarecedora. Estaline “sanguinário” foi uma construção com fins políticos após a morte do ditador. Enquanto vivo foi objeto de elogios de F. Delano Roosevelt e de Churchill tanto pelas seus resultados de política económica (a espantosa industrialização rápida num imenso país atrasado, destruído por invasões militares estrangeiras e por uma permanente guerra civil, e pela devastadora ocupação alemã) como pela vitória militar sobre os nazis. Escritores reputados, jornalistas sérios, visitavam continuadamente a União Soviética e se nem todos elogiavam o que viam, não a descreveram com igual ao nazi-fascismo.

Genocídio de classe?  ---  “Guerra contra os camponeses”? --- É certo que grande parte dos camponeses da Ucrânia insurgiram-se contra as requisições e em vários casos recorreram à luta de guerrilhas, a sabotagens de vias férreas e aatquataquesíferos a comboios de funcionários soviéticos, lnchamentos, expulsão violenta de governantes pró-soviéticos e que tudo isso se refletiu em divisões no seio do Partido entre Estaline o grupo fracionista de Bukharine que tentou destituir o secretário-geral. Os mivimentos insurrecionais separatistas na Ucrânia e noutras regiões foram , assim, perseguidos por meios de banditismo puro. A reacção foi igualmente brutal. Todavia, nada disto, apesar da violência extrema, foi genocídio, não decorria da “ideia comunista”, nem fora movida pelo etnocídio que caracterizou o nazismo Goulags -   Com a abertura dos arquivos da polícia soviética, pôde-se estimar em 2.o22.976 a população total encerrada em campos de trabalho em Janeiro de 1939, o ano crucial. Comparativamente nos Estados Unidos em 1995, 1,6 milhão de presos nas cadeias e 3 milhões em liberdade vigiada ou condicionada, sendo dois terços de afroamericanos.Não se verificou de modo nenhum exterminação sistemática , como fez o naxis-fascismo (foram centenas d emilar os fusilados pelas tropas de Franco após o triunfo destas); a maioria sobreviveu e regressou (entre 39 e 40 20 a 40%). Perto de um milhão de prisioneiros foram libertados nos inícios da invasão nazi e lutou de armas na mão. Mais de metade de todos os mortos do goulag para o período de 1934-53 contam-se nos anos da guerra (1941-1945), em que morreram 22 milhões de cidadãos soviéticos. Nos goulags em 1953 a taxa de mortalidade baixou para 3 por 1000. Os prisioneiros por «atividades contra revolucionárias» constituíam 12 a 33% conforme os anos; a maioria restante eram presos delinquentes do direito comum. O número total de execuções de 1921 a 1953 foi de 799.455 (delinquentes criminosos, elementos comprovadamente traidores e espiões nas guerras civis e sob a ocupação alemã, soldados nazis criminosos).

 A formação rápida de cooperativas dando terra a quem a trabalha, e quintas estatais, a maquinaria agrícola que novas fábricas produziam, permitiu aumentar extraordinariamente a produtividade nos campos, colonizar vastas terras, regular a distribuição e os preços. Foi resolvido o problema gravíssimo da fome e criou-se o pleno emprego. Se tal não fosse realizado, se a industrialização conforme os planos quinquenais não tivesse realizado, a União Soviética não estaria preparada para a guerra e seria derrotada pelos nazis. Imaginem-se as consequências.  Todos os governantes do Ocidente o compreenderam e não foram poucos os que manifestaram a sua surpresa e os seus elogios. Surpresa maior tiveram-na os nazis…Parece-me que esta questão é crucial quando se analisa e se debate o papel de Estaline. Foi o líder de uma revolução profunda e um dos maiores cabos-de-guerra de todos os tempos. E foi, ao mesmo tempo, nos meios que empregou ou que não conseguiu impedir que se empregassem que se afastou do exemplo e legado leninista. É evidente que não se pode e deve separar uma coisa da outra, porém não se pode enfatizar o segundo aspeto sem reconhecer o primeiro.

 

A Revolução Soviética

No século XIX a classe operária e outras camadas da pequena bueguesia, os socialistas e comunistas, particparam das revoluções sociais não para se instaurar o domínio da grande burguesia. E se tal sucedeu foi porque esas, ou quase todas, foram conduzidas pela burguesia e acabaram por ser derrotadas no caso das 1848-49. A Comuna foi esmagada em 1871 em Paris. A história das revoluções liberais em Portugal constituem um repositório de ensinamentos e de demonstrações das divisões na burguesia, das traições dos burgueses ricos (os “novos barões”), como a Revolução de Setembro. José Félix Henriques Nogueira e o socialismo, a república democrática e social.

A Revolução russa de 1917 veio confirmar a tese política fundamental de Marx e Engels: a classe operária cabia-lhe o papel revolucionário que já coubera à burguesia, agora nas novas condições do imperialismo. A burguesia deixara de ser revolucionária, e tal comprovou-se mesmo num país relativamente atrasado com relações feudais ainda nos campos. Esta direcção atribuída à classe operária de qualquer país direção política, social, histórica, distinguia e distingue o marxismo de qualquer programa nazi-fascista. No quadro das novas lutas de classes-entre o proletariado e a burguesia- o fascismo nunca poderia ter surgido do marxismo fosse em qualquer versão revisionista deste.

Nos inícios do século vinte verificaram-se revoluções democrático-burguesas, em 1905 na Rússia, em 1910 em Portugal mas ou foram derrotadas ou deixaram-se derrotar pelo fascismo. O fascismo não realizou revoluções proletárias.

Os Sovietes de Deputados dos Operários e Camponeses, na Rússia, em nada se equiparavam no programa e nos métodos com as organizações nazi-fascistas de assalto ao poder. As Teses de Abril de Lenine apontavam vias e objetivos revolucionários que em nada foram imitados pelo fascismo na década seguinte à Revolução de Outubro de 1917. Em que é que a ditadura do proletariado se assemelhava ao programa fascista? Todavia, era esta a consigna de Marx que Lenine perseguiu.

As lutas de Lenine contra os diversos oportunismos dentro e fora do partido bolchevique (comunista) distinguem absolutamente os fascismos do comunismo e do socialismo. Contra os sociais-democratas que pretenderam, e fizeram-no, apoiar a guerra e depois prossegui-la, Lenine denunciou a guerra como imperialista. Os fascistas italianos apoiaram a intervenção.

A definição das etapas e das reivindicações prioritárias (a Paz, a terra a quem a trabalha) democrática e socialista da revolução e que começou logo a ser cumprida, não se assemelhava em nada com os programas fascistas italiano e mais tarde nazista.

A Internacional Comunista, no seu VII Congresso realizado em 1935, caracterizou acertadamente o carácter de classe do fascismo, considerando-o a «ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, chauvinistas e imperialistas do capital financeiro.»

Muitos justificam as barbaridades cometidas pelos nazistas com a «loucura» de um único homem. Adolf Hitler, e fica por aí a coisa, ou, no máximo, acrescentam-lhes os colaboradores mais próximos (Himmler), ao mesmo tempo que procuram separar o nazismo alemão dos restantes regimes fascistas, apelidados de «conservadores» ou «autoritários». Estas explicações não resistem a qualquer análise séria. O programa comum desses regimes, da Europa à Ásia, foi a guerra, o expansionismo e o colonialismo, o antidemocratismo e o anticomunismo.

Durante as décadas de 1920 e 1930 os marxistas e comunistas enfrentaram-se com uma tarefa urgente face à implantação de regimes fascistas em diversos países europeus: o que tornou possível tal desgraça?

Deve-se a Trotsky uma das primeiras e mais acertadas caracterizações do fascismo: o fascismo é a expressão de uma crise estrutural profunda do capitalismo moderno, isto é, resulta da tendência do capitalismo monopolista, conforme as análises de Hilferding e Lenine, a «organizar» o conjunto da vida social de uma maneira totalitária. Em 1936 Otto Bauer, muito antes da sua viragem à direita, considerou-o como «o produto de três processos interligados». O decurso e as consequências da Primeira Guerra Mundial criando massas de desempregados ou “desclassificados” (formando as milícias fascistas); as crises económicas do pós-guerra, que empobreceram empregados (no pequeno comércio, na função pública) e camponeses; os partidos burgueses tradicionais ficaram desacreditados; as crises económicas reduziram os lucros da classe capitalista, e, para restaura-los, a burguesia precisava romper a resistência da classe trabalhadora, o que parecia difícil ou impossível sob um regime demoliberal.

Neumann, num estudo clássico da Alemanha nacional-socialista, Behemoth (1942) argumentou que «em um sistema monopolista, os lucros não podem ser produzidos e apropriados sem o poder político totalitário (…) é essa a característica marcante do nacional-socialismo» e descreveu o regime como uma «economia de comando», ou, mais amplamente, como «o capitalismo monopolista». Na Alemanha o processo de centralização e concentração do capital levando ao monopólio tinha ido mais além do que em outros países. Pollock (1975) em ensaios escritos em 1932 e 1941, enfatizou o papel do Estado («capitalismo de Estado»); a conclusão e a classificação continuam controversas, porém conserva-se correta a importância decisiva do Estado (aliás, advogada pelos próprios fascistas). Adorno e Horkheimer realizaram a partir de 1945 estudos sobre os preconceitos, a “personalidade autoritária” e o antissemitismo. (Ver referências). Os regimes fascistas e os seus movimentos de massas (quase todo o povo alemão colaborou ou pelo menos aceitou as invasões nazis, exceto evidentemente os muitos nacionais que foram liquidados) foram estudados sob vários prismas de análise: económica, política, sociológica, psicossocial. Nenhum desses estudos clássicos “demonstra” a identidade do nazismo com o “estalinismo”, embora reconheçam algumas semelhanças na forma. Nenhum conclui que o nazi-fascismo derivou do marxismo. Esta ficção é puramente ideológica.

Outros salientam a «singularidade» do nazismo, em comparação com outros regimes fascistas, tendo em conta as especificidades nacionais e históricas da Alemanha. Pecam por excesso (ou por intenção) levando-se a uma separação errada do nazismo e do fascismo.

 Adler e Otto Bauer chamaram a atenção para as consequências do desemprego: a SA nazista (tropa de choque) recrutou, durante os anos de 1930-1932, um exército privado de 300 mil homens nas fileiras dos desempregados.  Este aspeto é deveras importante para aquela época e para outras, porém não explica posteriormente ditaduras fascistas onde o desemprego maciço não existiu. Nem explica na época as ditaduras de Franco e Salazar.

Uma crise económica aguda pode provocar maior radicalismo da classe operária e outros estratos de assalariados, como também desenvolvimento de movimentos políticos fascistas ou fascizantes. Constatação consensual tanto para os marxistas como para os que o não são. A extrema-direita também o sabe. As crises constituem o fulcro da reacção violenta extremada do capital. Contudo, convém definir de que crises falamos. No Chile a crise social foi provocada pelas táticas desestabilizadoras da reacção ao governo de Allende e teve inspiração e apoio da administração norte-americana. A reacção fascista pode provocar golpes de Estado sempre que os governos encetem políticas que prejudiquem profundamente os interesses instalados.

A Entente Internacional contra a Terceira Internacional comunista, sob a sigla EIA, que funcionou de 1924 a 1945, ou Anti-Komintern, agência de propaganda contra o bolchevismo chefiada por Goebbels em 1933, os Fasci di Comattimento constituídos em 1924 na Itália, construíram a maior parte, o principal, das calúnias que ainda hoje se utilizam contra os comunistas. Na Guerra Civil de Espanha, o carniceiro Franco e seus acólitos apoiaram-se nessa Entente para espalhar as calúnias de que os bolcheviques predicavam o “amor livre mais desavergonhado”, a “dissolução da família”, a irradicação violenta da religião e da Santa Madre Igreja (com a prestimosa colaboração da própria Igreja católica), e por aí adiante.

 

Não há dúvida, contudo, que evitando muito embora a absolutização de “leis”, o colapso das economias liberais no final da década de 1920 com o seu cortejo tremendo de consequências sociais contribuiu para o fortalecimento do nazi-fascismo. Não se esqueça, porém, que na Itália e Portugal, regimes fascistas eclodiram anteriormente a esse colapso; nestes e noutros países (o nazismo já emerge na República de Weimar) as sequelas da Primeira Guerra Mundial foram importantes causas, somadas às especificidades de cada país. Ou seja, pretendo enfatizar o seguinte: os regimes capitalistas ditatoriais, terroristas, constituem soluções a que o grande capital, associado em muitos casos aos grandes proprietários rurais, recorre sempre que pode quando é necessário desenvolver rapidamente e proteger a acumulação na via da centralização e concentração monopolista, reprimindo-se, para o efeito, a classe operária, os seus partidos políticos e sindicatos, os direitos e liberdades conquistadas. Em alguns casos é o capital estrangeiro que, servindo-se de homens-de-mãos e de mercenários, golpeiam governos burgueses legitimados por eleições livres que desejam implementar a independência nacional.

Esta definição parece-me a mais congruente com o marxismo e com a realidade factual histórica, aplicável a todos os casos particulares do mundo a partir da formação do capital monopolista. Corresponde à tese central que Lenine expôs no seu livro fundamental “O Imperialismo, Estádio Superior do capitalismo» e que nos alertou não só para a situação daquele período em que ele o redigiu, mas também para o presente histórico que atravessamos. Devemos somar o seguinte (de resto, encontra-se explícito nas teses avançadas por Lenine e, sobretudo, em outros textos posteriores): nas ofensivas do capital monopolista (corporações, grande trusts e transnacionais) inclui-se o colonialismo e o neocolonialismo; é esta a tese fundamental de Lenine que dá corpo ao título «O Imperialismo». Não se pode compreender o século vinte e este primeiro terço do século vinte e um, sem recorrermos a essas categorias: Monopólios, imperialismo, colonialismo. A exploração dos trabalhadores por todas as formas possíveis é a finalidade do Capital. As ditaduras políticas não são uma “solução de exceção”, como se o regime demoliberal fosse da natureza e da essência do capitalismo, como se este fosse o “normal”. Não podemos analisar as ditaduras tendo como única referência a “normalidade” democrática da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. De resto, nos EU a repressão foi e continua a ser violenta. Não recorreram à “exceção” (até ver!) porque possuem instituições estabilizadoras e soluções de escape para o exterior. O liberalismo transportou sempre soluções brutalmente repressivas desde a contra-revolução na França de 1796. Os progressos dos governos demoliberais deveram-se, tanto no século vinte como no século dezanove, a importantes lutas dos movimentos democráticos.

As soluções nazi-fascistas surgiram no século vinte por via de uma malha de causalidades gerais e específicas, no quadro mundial do imperialismo contemporâneo; contudo, puderam surgir em períodos posteriores e contextos diferentes, e podem ressurgir em contextos novos do capitalismo desenvolvido. Os regimes liberais reprimiram violenta e barbaramente as massas descontentes, utilizando todas as forças repressivas (militar, policial, paramilitar) como o demonstra o esmagamento sangrento da Comuna de 1871 e sequentes fuzilamentos de milhares de trabalhadores e a repressão em Portugal das revoltas populares subsequentes à “Revolução setembrista”. Não se pode desligar o capitalismo liberal oitocentista das barbaridades cometidas nos impérios coloniais (e mesmo nos próprios centros, como nos EUA). O chamado “período d´oiro” do capitalismo no pós-guerra, não se julgue que foi do revigoramento das democracias burguesas que as preferem, porque simultaneamente, e para que isso se conservasse, se reproduzisse e se realizasse o capital, aplicaram-se em todos os quatro cantos do planeta bárbaras guerras para esmagar ou tentar esmagar os movimentos independentistas contra a dominação do capital estrangeiro. A Grécia pelos “liberais” britânicos, a Argélia e Vietnam pelos “liberais” franceses, o Vietnam pelos “liberais” norte-americanos (o Partido Democrático!).

As democracias burguesas (sobretudo a partir do século vinte) não são a mesma coisa das ditaduras nazi-fascistas (tirando a base comum: todas são ditadura da burguesia), certamente, e é necessário distinguir para compreender os fenómenos (os nazi-fascistas reprimiram também sectores políticos e económicos burgueses liberais) e daí estabelecer alianças. Por vezes ou quase sempre burgueses liberais apoiaram os golpes militares e fascistas (os exemplos abundam, desde Portugal), quer se tivessem depois afastado deles, quer não. Dizer que não são a mesma coisa, não é escamotear, como sempre fazem os liberais burgueses (nos EUA por exemplo), as “soluções” militaristas e anti-democráticas a que deitam mão (todo o século vinte e o atual são prova disso- Iraque, Médio Oriente, América Latina, África). A democracia “exemplar” (para exportação) dos EUA é responsável pelas guerras deste século. Um norte-americano de Alabama ou de Nova Iorque dirá com orgulho que vive numa plena democracia política; um operário comunista do Iraque, do Afeganistão, Síria, não dirá o mesmo das democracias ocidentais. Dir-se-á que a partir de certa altura quem promove ditaduras terroristas, ou guerras, é a grande burguesia local (Birmânia, Indonésia, países árabes). Todavia, quem a apoia não são os governos “liberais” dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha?

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, todos os países de regimes liberais reprimiram violentamente as associações e greves operárias. A exemplar Grã-Bretanha usou menos da repressão direta, porém reforçou substancialmente as polícias e os espiões.

Os dois governantes efetivos da Alemanha desde 1916, Generais Hindenburg e Ludendorff, foram importantes apoiantes do nazismo. Não haviam sido governantes de repúblicas “liberais”? Os fascistas não vêm do inferno, vêm dos conservadores. Não são regimes da pequena burguesia, mas do grande capital.

Na Itália o fascismo a contra-revolução,« (…) foi alcandorada ao poder por uma conspiração de altas patentes militares, políticos nacionalistas e importantes homens de negócios, não porque tinha de se encontrar uma solução para a desintegração económica, mas porque os grandes negócios queriam partir a espinha às organizações da classe trabalhadora (…)» p. 224, W. Bruce Lincoln, Red Victory:A History of the Russia Civil War, 1918-1921

A tese defendida por alguns de que o nazi-fascismo foi “somente” uma reacção de defesa do bolchevismo horroroso, é a velha atoarda de que o marxismo-leninismo aposta exclusivamente na via armada para tomar o poder, quando se sabe que em momento algum Marx, Engels e o próprio Lenine defenderam que essa é a única via desejável, tudo dependendo da situação particular de cada país, do grau de violência com que a classe dominante exerce o poder. A própria Revolução socialista na Rússia foi como foi porque o governo de Kerensky recorria já à repressão violenta, insistindo na continuação da Rússia na Guerra Mundial e, sob o comando do general Kornilov, se preparava para esmagar pela força os sovietes. Os mentores do “revisionismo histórico” e a extrema-direita que se abrigam nessa teoria falsa, não são mais que desonestos. Existe uma bibliografia sobre a Revolução Russa suficiente para que não se justifique a ignorância. O ódio da extrema-direita ao marxismo-leninismo alimenta-a desde sempre pois que é ele que lhe fornece a sua essência e programa.

Daí que a renovada campanha, que ora se verifica, contra os comunistas (na qual participa a Televisão pública e o jornal Expresso) prossiga com a recauchutada denúncia dos crimes de Estaline, mentindo, exagerando até ao absurdo, distorcendo factos, omitindo, descontextualizando as políticas e as decisões tomadas sob pressão. O famigerado “Relatório Kruchov” tem-lhes servido na perfeição. Na realidade o retrato de um Estaline “sanguinário” visava propósitos políticos de um grupo contrarrevolucionário no interior do PCUS. As suas consequências sobre o movimento comunista internacional foram quase tão perniciosas quanto as ações da própria CIA e prestaram a esta um valioso serviço que ainda hoje rende.

Estaline—

- A formação rápida de cooperativas dando terra a quem a trabalha, e quintas estatais, a maquinaria agrícola que novas fábricas produziam, permitiu aumentar extraordinariamente a produtividade nos campos, colonizar vastas terras, regular a distribuição e os preços. Foi resolvido o problema gravíssimo da fome e criou-se o pleno emprego. Se tal não fosse realizado, se a industrialização conforme os planos quinquenais não tivesse realizado, a União Soviética não estaria preparada para a guerra e seria derrotada pelos nazis. Imaginem-se as consequências.  Todos os governantes do Ocidente o compreenderam e não foram poucos os que manifestaram a sua surpresa e os seus elogios. Surpresa maior tiveram-na os nazis…Parece-me que esta questão é crucial quando se analisa e se debate o papel de Estaline. Foi o líder de uma revolução profunda e um dos maiores cabos-de-guerra de todos os tempos. E foi, ao mesmo tempo, nos meios que empregou ou que não conseguiu impedir que se empregassem que se afastou do exemplo e legado leninista. É evidente que não se pode e deve separar uma coisa da outra, porém não se pode enfatizar o segundo aspeto sem reconhecer o primeiro.

A Revolução Chinesa

  Em 1931 o Japão invade a Manchúria. A aliança dos comunistas com o general Chiang Kai-shek começa a claudicar. O general nacionalista combate mais os comunistas que os japoneses invasores. Em 1937 os exércitos japoneses chegam ao coração da China. Face ao poderia militar fascista os comunistas organizam-se em guerrilhas. O Exército Vermelho conquista a Manchúria e, daí, virá um golpe letal sobre os exércitos inimigos. O Japão fascista rende-se, como se sabe, em 1945. Em Julho de 1946 Chiang Kai-shek lança contra os comunista uma ofensiva geral, com armamento norte-americano. A União Soviética comete um erro clamoroso ao reconhecer o governo, que parecia definitivamente vitorioso, do generalíssimo, o qual não perde tempo para tirar o devido proveito. É derrotado, porém, pela brilhante estratégia do cerco das cidades pelos camponeses, cujo mérito cabe a Mao Zedong. Por conseguinte, as forças comunistas recebem apoio decisivo (sem o qual não teriam triunfado) das populações dos campos. Para a luta de guerrilhas Mao inspirou-se nas lendárias rebeliões dos chamados «bandidos sociais», classificação que não deve ser descontextualizada das experiências e tradições populares chinesas que conservavam na memória coletiva as insurreições camponesas contra os latifundiários e «senhores da guerra». O romance de Rodrigues dos Santos é uma falsificação grosseira da história chinesa, tal como o é relativamente à época da coletivização da agricultura na União Soviética.

 

 

A crítica do passado tem de ter em conta os contextos, os interesses dos intervenientes, as suas estratégias e tácticas, as correlações de forças, economia, as ideias e as estruturas do poder. O rigor e a verdade estarão no conhecimento dos factos, no respeito pela realidade objetiva. Denunciar os interesses da burguesia que se organizou sob a doutrina liberal e as barbaridades que cometeu ao abrigo dessa doutrina, não nos conduz a negar valor ao liberalismo, às suas ideias e instituições. De pouco vale culpabilizar a burguesia pelos métodos e fins que prosseguiu desde o século XVI, XVII e XVIII, porque a nobreza participou activamente nas conquistas e até as conduziu e controlou. A crítica da Modernidade não exclui, nem pode ignorar e menos ainda desprezar, as conquistas progressistas e os valores universalistas e humanistas que emanciparam seres humanos da vida miserável que levavam sob o feudalismo, e que permanecem nos dias de hoje: a racionalidade, as ciências, o Direito, os sufrágios universais, direitos e liberdades. Percurso contraditório? Com certeza. Constituições políticas liberais que conviveram com a escravidão dos afro-americanos, com o genocídio dos nativos americanos, com os impérios coloniais. Vamos recusar por isso o progresso que constituiu os códigos civis, os direito penal, a participação decisiva de liberais no abolicionismo?

As críticas esquerdistas radicais contra a Modernidade (tudo foi mau porque tudo foi burguês liberal) que se têm verificados nas últimas décadas levam a água ao moinho das críticas reacionárias que vêm desde os defensores do Antigo Regiitadosme e da Restauração. Tanto se encontram que até alguns críticos esquerdistas transmitem e constroem uma visão idílica das sociedades europeias ou não, destruídas, substituídas, pelo capitalismo. Esses anti-iluministas enfeitados de “culturalismo” regurgitam os mitos reacionários dos românticos e dos restauracionistas. Nesse sentido, Nietzsche casa-se com os românticos reacionários anti-liberais, e ferveram o caldo que conduziu ao fascismo e ao nazismo. A crítica caricatural ao burguês, associado muitas vezes ao judeu, feita por artistas e filósofos no século dezanove, não v de em da Esquerda e muito menos dos socialistas e marxistas. Havia uma crítica de esquerda e uma crítica de direita. A crítica pelo Manifesto do Partido Comunista não tem nada de comum com a crítica de Nietzsche e da reacção romântica, e de Burke, Maistre e seus discípulos.

Otto Bauer

1881-1938. Colaborador da revista Die Neue Zeit, dirigida por Karl Kautsky- A pedido de Viktor Adler, dirigente do Partido Social-Democrata Austríaco escreveu um estudo sobre as nacionalidades pioneira nessas matérias e hoje um clássico. Foi diretor da revista Der Kempf. Fundador e membro proeminente do chamado austromarxismo. Foi diretor da revista Der Kempf. Fundador e membro proeminente do chamado austromarxismo. Eleve-se aqui ideias fundamentais do seu artigo importante de 1936 sobre o fascismo.

Sorel,

 Georges, 1847-1922. Marxista ou em nada marxista, percorreu várias fases mui distintas. Do determinismo científico passou rapidamente para a convesão do marxismo como umadoutrina ética. Do determinismo para o voluntarismo, estes paradoxos aparentes são bem conhecidos pelos marxistas. Transitou pelo reformismo “ético” e passou-se para as ideias do sindicalismo revolucionários. Embora um fruto das condições objetivas e subjetivas da época, à sua personalidade convinha esta escolha. Escreve as famosas Réflexions sur la violence (1906), partidário da “guerra de classes” defende que só os mitos possuem força suficiente para mobilizar as massas. Por conseguinte, as ideias apenas como mitos é que podem materializarem-se nas massas como força revolucionária. A sociedade capitalista estav condenada, o declínio via-se por toda a parte, mas ela só seria derrubada por acções violentas, nomeadamente as greves gerais. O marxismo, segundo ele, era, portanto, a greve geral. Desencanou-se com o sindicalismo revolucionário, porque não brotou revolução alguma dele e passou-se para a Direita. No fim da vida manifestou admiração pelos “homens de acção”: Lenine e…Mussolini! Sorel nunca foi realmente marxista, nem foi, é necessário dizê-lo, um fascista. Indiscutivelmente uma personalidade profundamente contraditória, mas notável com enorme influência num determinado período tumultuoso da história da Europa, em França, na Itália, em Espanha. Lenine repudiou. O messianismo e a utopia proliferavam e atingiam todos os quadrantes da esquerda e da direita.

Nessa época o positivismo que fora predominante no pensamento burguês-liberal sofria já ataques e rejeições de vários quadrantes da intelectualidade. O darwinismo social entrosado com vitalismos impregnava as correntes ideológicas. Verificou-se isso em Portugal inclusivamente. Tanto na direita conservadora como nas esquerdas. Conjugado com os nacionalismos fornecia um caldo favorável aos racismos. Desacreditado o racionalismo positivista abre-se caminho a todo o tipo de irracionalismos. A “Destruição da Razão”, título de uma obra célebre de G. Lukács, está em marcha. As críticas à “Razão instrumental”, “manipuladora”, “burocrática”, advenientes de Max Weber, por exemplo, encontram interpretações ideológico-políticas muito diferentes na Direita (Heidegger, Jünger, Klages) e na Esquerda (A Escola de Frankfurt- Horkheimer, Adorno), sendo que a receção e assimilação pelos públicos é confusa, isto é, parecendo que a Direita defende o mesmo que a Esquerda. A valorização dos mitos (em Heidegger os “novos deuses” que hão vir) não é uma originalidade de Sorel, embora este houvesse sido o mais escritor mais influente. Horkheimer e Adorno lançaria o alerta nos seus escritos sobre a Ilustração e, a seguir, o fascismo. Também se verifica esse fenómeno da mitologização em notáveis intelectuais portugueses (Fernando Pessoa). No nazismo expressa-se nas expressões “sangue”, “terra”, “heroísmo”. Esses apelos constituem ingredientes fundamentais dos movimentos de massas na Alemanha nazi em políticas de “vida saudável” desportiva ou campesina, nos imponentes cenários que pareciam fascinar a juventude. Ao memso tempo que confluíam para as cidades contingentes de camponeses pobres, a intelectualidade dedicava-se a demolir o modo de vida burguês, acomodado e normalizado (o nazi e influente pensador Carl Schmitt traçara a famosa distinção entre “normalidade” e “exceção”, que vemos hoje novamente em circulação).

Otto Bauer – 1881-1938. Filósofo austríaco. Colaborou com Kaustky na revista por este dirigida, Die Neue Zeit. Em 1907 publicou um estudo pioneiro no marxismo sobre a questão das nacionalidades e do nacionalismo, a pedido de Viktor Adler. Fundou com Karl Renner(importante estudioso do Direito burguês-liberal) a revista teórica do partido social-democrata Der Kampf. Em 1936 um importante estudo sobre o fascismo. O chamado “austromarxismo”, o qual mais tarde influenciou a Nova Esquerda e o eurocomunismo, deveu-se a estes filósofos e polítcos, juntamente com Rudolh Hilderding (estudos importantes sobre a fase impaerialista do capitalismo e a tese do novo “capitalismo organizado”, e Friedrich Adler, todos importantes dirigentes do partido social-democrata (revisionista) da Áustria. Neokantianos como Mach e Avenarius fram do memso modo influentes; receberiam uma crítica contundente por V.I. Lenine, no célebre “Materialismo e Empiriocriticismo”.  Otto Bauer, e todos os demais, criticou a Revolução Bolchevique duramente, opondo-lhe uma “terceira via” não violenta a não dirigista e burocrática; na prática, colaborou ativamente no esmagamento das ações revolucionárias da classe operária. Convém no entanto não colcoar Bauer nas origens do fascismo, como fizeram os “revisionistas históricos” da “Nova Direita” (da extrema-direita, digo eu). Assim como não é correto desprezar obras tão notáveis como, porexemplo, A Questão das Nacionalidades e a Social-Demcracia, de Bauer (referência: La Question des Nationalités et la Social Democratie, 2 tomos, Editor: Ouvrieres, França. O problema das autonomias e independências nacionais era um problema real e candente nas condições concretas daquela época antes da Primeira Guerra e durante o período entre as Guerras Mundiais. O nazi-fascismo interpretou-o a seu modo: chauvinismo militarista, expansionista e imperialista, racista e colonialista. A Áustria havia sido a cabeça de um império que ruíu com a Primeira Guerra. Por outro lado, os partidos social-democratas dividiam-se tanto por causa da questão das nacionalidades e nacionalismos, como, por consequência, a favor ou contra a intervenção dos seus países na Primeira Guerra (Mussolini começa, como dissemos, por estar contra para depois se passar para a trincheira dos intervencionistas por causa, precisamente, do nacionalismo, porque a questão da unidade nacional italiana era de facto um problema que não estava de todo resolvido). A atitude das social-democracias de oposição ativa às revoluções operárias, porque as achavam sempre de inspiração bolchevique, era usual, a sua marca distintiva digamos assim (verificou-se na Alemanha, na França inclusivamente da Frente Popular), mas não é por isso que mereçam de modo algum ser colocados na mesma “panela” com os nazi-fascismos (algun grupos radicias designavam-na como “social-fascista”).

NOLTE

De modo que os nomes que J. R. dos Santos se serve para apoiar a tese de que o fascismo tem origens no marxismo, não possui qualquer sustentação. Nem Otto Bauer, nem mesmo Sorel (este nunca foi realmente marxista) apesar de tudo. Os “revisionistas históricos” dos anos oitenta do século passado utilizam anacronismos: as origens do fascismo seriam da responsabilidade de marxistas que, afinal, somente no fim das suas vidas se aproximaram, em alguns casos, de posições da Direita…O caso de Ernst Nolte é elucidativo. Figura de proa do “revisionismo histórico”, esse debata duro nos finais de Oitenta na Alemanha, o que ele visava era a reabilitação da Alemanha relativamente aos crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial, não propriamente de Hitler mas do povo alemão. Para tal desenvolveu as teses mais ou menos peregrinas de que o nazismo foi uma reacção de defesa face às ameaças dos “bolcheviques” e dos “judeus”. Saía, assim justificada a carnificina…O filósofo alemão Habermas colaborou com muito brilho na demolição de tais teses. Pelos vistos não desapareceram do arsenal anticomunista dos Rodrigues dos Santos deste pequeno mundo.

Robert Conquest

TESES

1. A democracia é antitética do capitalismo. O capitalismo não necessitou da democracia para se ir implantando. Sem liberdades políticas e sem sufrágios universais. Dispensou a democracia no colonialismo que lhe forneceu os recursos da acumulação.

2. Recorreu a ditaduras e tiranias sempre que quis e pôde. Em longos períodos da história do capitalismo o demo-liberalismo foi um empecilho de se livrou logo que pôde.

3. As ditaduras fascistas correspondem à fase monopolista-imperialista do grande capital. Em Portugal foi o meio para impor mais depressa a concentração e centralização.

4. Os regimes fascistas não alteraram as relações de produção capitalistas, alargaram-nas e reforçaram-nas pelo contrário. Sucedeu na Itália, Espanha e Portugal.

5. A relação jurídica fundamental no capitalismo é a que legaliza e legitima a apropriação privada dos meios de produção, da produção e dos lucros. É o conteúdo da fórmula da «livre iniciativa». O capitalista não é proprietário do trabalhador, como no Antigo Regime, compra a força de trabalho. O tipo de contrato, a amplitude dos direitos do trabalhador, depende do regime político burguês, o qual, por sua vez, depende da corelação de forças e dos interesses dos capitalistas. Sob uma ditadura fascista os direitos do trabalhador são nulos e é essa a sua finalidade.

6. A social-democracia teve desde sempre a finalidade de preservar e sustentar os regimes demoliberais, independentemente da retórica dos seus programas, como os factos o demonstram. Passado que foi o perigo das vagas revolucionárias a sua origem reformista (alcançar o socialismo por meio de reformas) foi abandonada.

7. A crítica liberal aos métodos empregues na reforma agrária na Rússia soviética (a dita “brutalidade da coletivização”) e em todos os países onde ela se realizou, não é realmente contra os métodos, mas contra os fins. Qualquer forma de “coletivização” é inaceitável para os liberais. Quando necessário e possível recorrem ao fascismo para impedi-la. Pesem embora os métodos o que salvou o socialismo e a própria independência da Rússia foi precisamente a reforma agrária.

8. Os regimes fascistas constituíram um fenómeno universal organizado em situações particulares. Esta dialética do universal e do particular caracteriza todas as doutrinas políticas. Houve fascismo em Portugal porque se disseminou uma doutrina fascista por todo o lado.

9. Os horrores da Segunda Guerra Mundial foram perpetrados pelos nazis com a participação voluntária de diversos países europeus com regimes fascistas; não se deveram apenas aos alemães. Deveu-se a uma ideologia comum. Os nacionalismos não impediram de modo nenhum esse «internacionalismo» fascista.

10. A Primeira Guerra Mundial foi uma carnificina semelhante, em certo grau, à Segunda. Contudo, foi conduzida por regimes demoliberais burgueses, uns contra os outros. Os exércitos do Kaiser aplicaram-se na destruição de vidas e bens na França (tende-se a esquecer este facto de proporções monstruosas). O que deve levar-nos a refletir, no que respeita à violência genocida, na linha ténue que separava os nazi-fascismos dos regimes demoliberais.

11. O capital, pela sua necessidade imanente ao processo de realização e acumulação, produz a criação pela destruição do capital investido e materializado (bens de equipamento e meios de produção, edifícios, etc.). Realiza essa atividade autodestrutiva seja no seu próprio país, seja em outros. Cria guerras também em seu próprio benefício. Tais são os horrores que o capitalismo transporta.

12. A eliminação das relações de produção capitalista (portanto, a começar pela eliminação da predominância da apropriação privada nas fábricas e nos campos) na medida em que foi finalidade fundamental da construção do socialismo na Rússia soviética, estava inscrita no projeto de Marx-Engels e do continuador V. I. Lenine. É esse o alvo principal que os detratores do marxismo atacam, nomeadamente os “revisionistas históricos”. Ao contrário em absoluto do que estes afirmam, os fascismos não nasceram neste berço. A sua origem e finalidade foi, e é, impedir este projeto por todos os meios.

13. Os regimes fascistas não representaram (nem em momento algum representarão) uma forma de dominação da pequena burguesia, ainda que uma parte desta, julgando-se representada, os tivessem apoiado. Convém lembrar que a pequena burguesia urbana do século dezanove, primeira metade, liderou as revoluções democráticas (1845-48, as insurreições no Portugal de 1836). Tiveram um papel decisivo no programa republicano português no decurso da monarquia constitucional, na revolução de 1910 e na defesa da Primeira República. Contra quem se opôs em todo este longo período senão contra a grande burguesia que organizou a contrarrevolução em toda a parte?

14. O século XIX foi um século de revoluções e contrarrevoluções. Tempo de ascensão e triunfo do liberalismo? De qual liberalismo? Das alianças dos aristocratas terratenentes, das monarquias e dos grandes agrários, com o grande capital do comércio e da indústria. Quatro classes sociais envolveram-se permanentemente em lutas: a nobreza, a classe capitalista, a pequena burguesia urbana, o proletariado. Cada uma delas interveio com os seus interesses próprios reunidos e justificados por ideologias . Já nada se resumia à luta entre a burguesia e a aristocracia. No fragor das batalhas, nas derrotas e triunfos, os grandes proprietários (latifundiários e capitalistas) percebram que era mais o que os unia do que aquilo que os separava, que um estado liberal à sua medida era o que melhor lhes convinha, que o adversário de ambas era aquela pequena burguesia democrática radical e um proletariado que se organizava perigosamente. Quando os velhos e novos impérios se chocaram entre si arregimentaram a plebe e a pequena burguesia e desencadearam a carnificina da Primeira Guerra Mundial. O século XIX terminara. As lutas de classes adquiriu novas formas e novas lideranças.

15. O grande capital é hábil na sua tática, desde há mais de um século aperfeiçoada, de ocultar os seus interesses e as causas das suas crises e contradições, de apagar os trilhos e desviar as atenções, de inventar supostos inimigos. Diabolizar o projecto socialista e comunista é a sua tática preferida, porque ele é o seu inimigo principal. Quanto maior a crise, mais diabólico é o comunismo. Impedir que se pense um futuro diferente. Impedir que se pense, tout court.

16. Digo que os fascismos promoveram a sua doutrinação em chavões irracionalistas. Não digo que os capitalistas não possuam racionalidade (pensamento lógico-dedutivo, metodologias científicas). O positivismo foi essa espécie de “cientismo” que exprimia a sua crença no Progresso (sob o capitalismo evidentemente). O que convinha ter em conta é isto: a onda de críticas ao positivismo que marcou as primeiras décadas do século passado, foi utilizada pelos ideólogos nazi-fascistas em seu proveito. O descrédito do liberalismo positivista redundou no crédito do irracionalismo. Gerações de talentosos filósofos e artistas vanguardistas colaboraram ativamente na destruição da Razão. O mito do progresso que transportava a felicidade geral ruiu sob a bombarda da Primeira Guerra. Deu lugar por um lado aos mitos irracionalistas do fascismo e, por outro, às Revoluções socialistas. O que separava as duas visões do mundo e da vida? Tudo.

17. A burguesia destruiu crenças ancestrais e mitos no decurso do seu processo de “racionalização” do mundo. Substituiu por outros: primeiro, o mito do Progresso, a seguir, nas crises, o mito da “Nação”. Novas correntes filosóficas dedicaram-se a construir mitos, crenças e atitudes onde a verdade racional claudicava e se adorava a intuição e a sensibilidade, os “criacionismos” e os espiritualismos, numa mistura confusa e contraditória com velhos mitos restaurados de “heroísmos” cavaleirescos e se escutavam os apelos místicos da “Terra Mãe” ou dos deuses que hão-de vir. O mito da Nação que unia o “povo” mitificado, identificando-o pela diferença mais ou menos brutal com outros, recuperava a unidade mística do Rei que representava os deuses na Terra.  A identificação do Estado com a Nação, e destes com o Chefe ( o Rei Pai de antanho) foi o lance definitivo. A operação estava montada. Uma boa parte da pequena burguesia radical e da intelectualidade embarcou.

18. Não digo, de modo nenhum, que todos os críticos do positivismo tivessem sido proto ou mesmo fascistas. Digo que os fascismos medraram nessa atmosfera. Os futuristas, modernistas e surrealistas separaram-se em fações hostis. Os marxistas foram críticos do positivismo, expressão ideológica da burguesia. O marxismo não é uma forma de positivismo; contudo, é racionalista.

19. Nunca subestimar a natureza competitiva dos capitalistas. Tanto dos muito grandes, como dos muito pequenos. A diferença é que os primeiros provocam guerras mundiais e os pequenos combatem por eles.

20. A propaganda de que o terror é consubstancial às sociedades “comunistas” serve ao Capital para reforçar o consentimento das massas pelos regimes demoliberais, sempre e quando lhes convém estes regimes. A dominação capitalista legitima-se a si mesma pelas eleições é certo, mas também pela propaganda. O que significa dizer o mesmo.

21. Se as massas viveram sob o terror nos países do socialismo, porque não se assistiu à irrupção de um ódio coletivo e de uma vontade de justiça espontânea e violenta contra os dirigentes e os membros das polícias aquando da “queda do muro”? Quando se esperava uma guerra civil na Polónia (alguns a desejavam), o povo “oprimido” pelo comunismo a linchar nas ruas os tiranos, nada disto aconteceu. Nem na RDA.

22. As “classes médias”- definição Emprega-se o termo quando se fala no Antigo regime, corresponde à burguesia. Em as Teorias da mais-valia, no sentido de “pequena burguesia”, entre a classe burguesa e o proletariado. Distinga-se as “velhas classes médias” ( pequenos produtores, artesãos, agricultores e camponeses) e “nova classe média” (que Marx anunciou o seu crescimento) ( funcionários do Estado, trabalhadores de escritórios e dos serviço, chefes em empresas, técnicos, professores, outros intelectuais). O caudal dos partidos reformistas e social-democratas foi constituído por essas massas urbanas principalmente, que se inclinam normalmente mais para a social-democracia ( o centrão) que para a revolução socialista ou o socialismo propriamente dito. Não é simples afirmar-se que se deixam sempre manipular (por exemplo por um partido dito socialista que meteu o socialismo na gaveta), pois crêem que os seus interesses se acharão, ou se acham mesmo, mais defendidos com a social-democracia  ochamado Estado social copaginado com a hegemonia do capital financeiro e monopolista, o que pode revelar-se uma marga desilusão permanente. Mostram-se permeáveis às campanhas mentirosas anticomunistas (relalmente antissocialistas). Divida em camadas diferenciadas que até se contrariam , oscilam politiamente facilmente algumas delas para a extrema-direita anarquistas, etc.  Os pequenos logistas não se comportam do mesmo modo que camada social dos técnicos e intelectuais, os camponeses pobres não se identificam com camponeses ricos, diitinguindo-se todos eles sem empregam ou não trabalhadores, se dedicam ao comércio ou à indústria, pelo nível de salários e rendimentos, de fornecerem servços para as grandes empresas ou não, qual opapel que desempenham na produção e na realização do capital a sua quota parte de absorção da mais-valia circulante. A distinção entre trabalhador produtivo e improdutivo é incorreta, pelo menos insuficiente. . A sua proletrauzação ameaça permanentemente, porque de facto assim ocorre. Provavelmente há na aspiração a um status social (de que por vezes gozam, pelo nível de consumo que os distingue do operariado mais pobre), que se manifeste aí uma espécie de “consciência de classe”, porém, no seu elitismo na sua aproximação maior com a podução e difusão cultural, por isso mesmo potenciais agentes de produção e difusão de ideologias, tanto em favor do status quo ou contra. Sendo tão diferentes e flutuantes, não há um único critério nem um destino, por isso os diversos partidos esforçam-se por conquistar essas camadas uma boa parte tende a empobrecer  e é isso que sucede no neo-liberalismo. Os movimentos fascistas, como vimos, constituíram-se sobretudo de desempregados e militares desmobilizados e camponeses ao seviço dos grandes agrários, com inegável simpatis por parte dos pequenos logistas. É arriscado afirmar, e memso falso em determinados países e momentos, que os uncionários p´blicos e a intelectualidade haja apoiado em massa os fascismos. se estas souberem falar em seu nome ou incutir-lhes o medo dos “coletivistas” (sucedeu em Portugal em 75, como sucedera no período de ascensão dos nazi-fascismos. Contudo, não o fazem determinados po uma natureza comum e imanente, pois que uma boa parte opôs-se à ascensão da ditadura nas décadas de 20 e 30 em Portugal, e voltaria a opor-se  apoiando a candidatura de Huberto Delgado, e , mais tarde, a Oposição Democrática (CDE e CEUD). Os dois comportamentos também possíveis: os radicalismos, que se manifestavam no século dezanove, republicanos, democráticos, Marx emprega o termo – A pequena burguesia liderou revoluções no século da implantação dos regimes burgueses liberais. Representaram as aspirações à República e Democracia, como tão bem o expressou o nosso Henriques Nogueira e tão bem o descreveram Hugo e Flaubert. Foi assim na Europa e na América latina nas suas batalhas pela independência que quiseram ir muito mais longe que a independência política. O longo processo de implantação do liberalismo da grande burguesia processou-se contra a vontade da pequena burguesia. Foram as derrotas desta e as debilidades do seu programa que fizeram emergir o projeto e o protagonismo da classe operária. A teoria de Marx-Engels surgiu do ocaso da liderança da pequena burguesia. É esta transição e substituição de atores no papel de protagonistas que explica em boa parte os grandes movimentos da história contemporânea e as origens de novas ideologias políticas. O radicalismo republicano e democrático com ideais socialistas foi a ideologia da pequena e alguma média burguesia, opositora do absolutismo do grande capital (no caso português na forma de companhias monopolistas), foi o seu projeto revolucionário. O marxismo foi a expressão da vontade do proletariado industrial, foi nele que conquistou a sua base social de apoio, não foi a doutrina das “classes médias”, ainda que nelas procurasse apoio e com elas tentasse uma frente comum contra a alta burguesia. Os partidos reformistas e os teóricos revisionistas (Bernstein) concluíram que a claase operária vem aburguesando-se, juntando-se às crecsente classe média, por conseguinte, não há espaço para o socialismo revolucionário (e mesmo para programas de eliminação do capitalismo, que foi realmente em que se tornaram os partidos social-democratas, terminado assim a necessidade de lutas de classes o que ostorna permeáveis para soluções corporativas (concertação social e colobaoração). Na realidade nada é absoluto e definitivo. Camadas médias podem substrair-se, desonctentes, à hegemonia dos reformismos conciliatórios e sentirem o descrédito das sociais democracias, os seus mebros enveredam assim para comportamentos completamente diferenciados e ás vezes imprevisíveis. “crismar” a pequena burguesia, como o fizeram marxistas e anarquistas do século passado, como fascista, foi um erro em certos casos desastroso, porque impediu-se a formação de alianças e programas antifascistas e isolou-se sectariamente os partidos operários e comunistas. Camadas sociais diferentes reagem de modos diferentes. Na opisição ao grande capital, neoliberal ou fascista, todos os democratas contam. As ditaduras não são obviamente do seu interesse (a eliminação das liberdades políticas), as políticas de “austeridade” também não.

23. A esquerda comunista não tem evitado enfrentar o problema real da falta de algumas liberdades políticas nos países que já viveram sob Estados socialistas, ou que se revindicam do socialismo com partidos comunistas no governo. Os ataques da Direita conservadora exerce-se sobretudo em dois planos: uma economia coletivizada e planificada não é rentável, e o caráter não democrático desses governos. Este segundo aspeto surte efeito na mente do cidadão comum. O PCP refletiu oportunamente sobre este problema real e candente e exprimiu-o em documentos dos seus congressos (citar). É verdade que as liberdades políticas básicas (direito à livre informação e expressão do pensamento, à reunião e organização política, etc.) ou são cerceadas (“justificadas” pelo cerco a que as potências capitalistas exercem continuamente) e tal é inaceitável até pelas consequências negativas sobre a participação dos trabalhadores, a produtividade, etc. Convém, no entanto, lembrar que as liberdades políticas não compõem todo o conteúdo concreto da liberdade: ter um trabalho seguro e não ficar no desemprego, de beneficiar de serviços públicos gratuitos de saúde, escolaridade e cultura, sem qualquer descriminação, equidade na mobilidade social conforme o valor do seu trabalho, igualdade plena da mulher, velhice protegida. Nada disto é garantido na esmagadora maioria dos países capitalistas, estando inclusivamente em perigo nos países europeus mais civilizados. Convém também lembrar que esta liberdade que para o cidadão comum é do seu interesse principal, alcançou-se em países que, antes, se encontravam arruinados pela guerra civil e mundial ou sofriam ditaduras cruéis. Falamos da URSS, China e Coreia, Vietnam e Cuba. A verdade é que os Estados socialistas têm de saber conciliar as mais extensas liberdades com a máxima resistência aos inimigos internos e externos. E tal não é fácil.

 

24. Quando acentuamos os perigos dos nacionalismos, pelas terríveis consequências que conhecemos, referimos os chauvinismos guerreiros e expansionistas, ou os isolacionismos premeditados. Não nos referimos às lutas de libertação nacional que percorreram dois séculos de história europeia e mundial, nem à urgente defesa da soberania nacional face às potências que dominam a União Europeia. Os patriotismos e independentismos possuem estas vertentes que convém de todo distinguir.

 

25. Goulags -   Com a abertura dos arquivos da polícia soviética, pôde-se estimar em 2.o22.976 a população total encerrada em campos de trabalho em Janeiro de 1939, o ano crucial. Comparativamente nos Estados Unidos em 1995, 1,6 milhão de presos nas cadeias e 3 milhões em liberdade vigiada ou condicionada, sendo dois terços de afroamericanos.Não se verificou de modo nenhum exterminação sistemática , como fez o naxis-fascismo (foram centenas d emilar os fusilados pelas tropas de Franco após o triunfo destas); a maioria sobreviveu e regressou (entre 39 e 40 20 a 40%). Perto de um milhão de prisioneiros foram libertados nos inícios da invasão nazi e lutou de armas na mão. Mais de metade de todos os mortos do goulag para o período de 1934-53 contam-se nos anos da guerra (1941-1945), em que morreram 22 milhões de cidadãos soviéticos. Nos goulags em 1953 a taxa de mortalidade baixou para 3 por 1000. Os prisioneiros por «atividades contra revolucionárias» constituíam 12 a 33% conforme os anos; a maioria restante eram presos delinquentes do direito comum. O número total de execuções de 1921 a 1953 foi de 799.455 (delinquentes criminosos, elementos comprovadamente traidores e espiões nas guerras civis e sob a ocupação alemã, soldados nazis criminosos).

O «holocausto ucraniano»

Uma das peças-chave da propaganda anti-comunista tem sido o que chamam o «holocausto ucraniano», ou «A Grande Fome» de 1932. O propósito de demonstrar que existiu uma política deliberada de genocídio, extermínio a sangue frio, do povo ucraniano. «A extrema-direita, que nega com convicção o holocausto dos judeus, inventa então o holocausto ucraniano!» (L. Martens).

  Esta grossa mentira constituiu parte da estratégia dos nazis de preparação planeada de invasão e destruição da União Soviética, confundindo, dividindo, promovendo sentimentos nacionalistas e de simpatia pela pelos alemães «libertadores». É nas fontes nazis que os «revisionistas históricos» se baseiam e em testemunhos de agentes norte-americanos que mentirosamente afirmaram ter verificado in locu a situação. Pese embora a colaboração ativa dos grupos nazis ucranianos chefiados pelo famigerado Bandera (o herói dos atuais nazis), o povo ucraniano resistiu com bravura à ocupação nazi. As causas reconhecidas da fome que assolou os territórios ucranianos foram o período de seca muito grave de 1932, a desorganização da agricultura ocasionada pela coletivização com pouca ordem e demasiada pressa (a formação de cooperativas pelos camponeses pobres que detestavam os kulaques, revelou-se muito mais difícil que se julgava) e a resistência feroz dos kulaques. A colheita de 1933 e uma melhor organização vieram pôr fim à fome e à anarquia.

 

26. Não são as derrotas que julgam os projetos socialistas e comunista. Acaso se imagina que as reivindicações dos trabalhadores, a sua emancipação, poderia ser “oferecida” pelo patronato sem revoluções? Afirmar que os revolucionários comunistas gostam do poder pelo poder é tão idealista filosoficamente falando sobre aquilo que efetivamente faz mover a história que parece papaguear a fórmula nietzschiana da «Vontade de Poder» de que tanto gastam os pós-modernos conservadores.

A Revolução de 1917 não foi um “parto prematuro” como pregam as sereias “revisionistas”. Foi realizada no momento oportuno para impedir uma mais que provável ditadura militar, e satisfazer os anseios maiores das massas de militares e civis que nela participaram ativamente: a paz, a terra, o pão.

 

PORTUGAL – O anarquismo era a ideologia dominante. O Partido Socialista tinha pouca influência no movimento sindical. Neste existia a FMP, com o seu jornal «Bandeira Vermelha», fundada em 1919 e da qual saíram os primeiros comunistas que fundaram o PCP. No «Bandeira Vermelha» era cada vez mais notório, pela pena dos seus colaboradores, o apoio entusiástico à Revolução soviética, nomeadamente aos sovietes, e expressava-se com clareza a necessidade de um «partido novo». Em 1920 o anarquismo já correspondia às necessidades do movimento operário, sobretudo após a greve geral frustrada (e reprimida) de 1918.

No período entre as duas guerras mundiais Portugal sofreu uma crise económico financeira, sobretudo em consequência da participação na Primeira Guerra, que viria ser fatal para a 1ª República. Desde o seu início em 1910 até à sua queda a República democrática não foi deixada em paz pelos reaccionários monárquicos. O «Integralismo lusitano» (António Sardinha entre outros) nutriam publixamente simpatias pela Action Française próxima do fascismo. A «Alma Portuguesa» de Rolão Preto advogava o fascismo sem disfarce. Tradicionalistas, conservadores, católicos militantes, fascistas, todos se irmanavam na vontade de instalar um «Estado Novo», isto é, uma ditadura. O nacionalismo com tintas de algum racismo instalava-se na ordem do dia das discussões e das conspirações. Franjas das chamadas «classes médias» manifestação desagrado com a movimentação operária e a perda do seu status social. A ditadura populista de Sidónio Pais fora bem recebida e o assassinato do líder transformou-o em mártir. O ambiente mostrava-se profundamente reacionário. A «Cruzada Nun´Álvares» galvanizava os chauvinistas. O grupo da «Seara Nova» parecia impotente a pregar aos peixes. A nível das ideias filosóficas e políticas a corrente positivista, que havia guiado os mentores e fundadores da República nos ideais de progresso, cedia o passo à marcha inexorável do irracionalismo, abertamente naqueles muitos que pregavam o regresso á «terra mãe» e outras pieguices, e noutros que o tingiam de «espiritualismo», « vitalismo», «intuicionismo», de que Henri Bergson fora o papa. Faça-se a exceção devida a um original pensador e democrata: Leonardo Coimbra (animador das Universidades Populares e fundador da Faculdade de Letras do Porto, a qual viria a ser encerrada na ditadura de Salazar). O racionalismo de António Sérgio, porventura a figura mais notável da primeira metade do século, não encontrava eco. O país não fora penetrado pelo Iluminismo na altura devida e a modernidade ficara sempre circunscrita a círculos pequenos e breves de intelectuais que acabaram por desistir. A vertente “cienticista” das filosofias positivistas não encontrara húmus num país de camponeses e marinheiros, tolhido por uma grande burguesia acomodada ao monopólio. A hegemonia do catolicismo era tão pesada que o potencial crítico de brilhantes poetas, pintores e uns tantos filósofos não conseguiram produzir um pensamento verdadeiramente alternativo. O «deísmo» dos maçónicos (cujas lojas com os seus “carbonários” foram decisivas na implantação da república e na gestação das clientelas políticas, nos lobbies como hoje se diria) não fabricara “iluminismos” de relevo algum. A consciência social deixava-se navegar no mar sem tormentas de um saudosismo vago e ligeiro, «saudades do futuro», com um Dom Sebastião a romper da neblina, ou um messias a levitar radioso sobre a terra de Nun´Álvares. “Um Novo Império! Um Chefe!”, pareciam declamar os espíritos graves. O proto-fascista Pessoa resumia bem a crise da consciência pequeno-burguesa, sufocada num país onde o suicídio e a cirrose parecia ser o destino dos seus filhos maiores. Ou o regresso dos filhos pródigos à  Santa Madre Igreja. Para enlevo escapista da populaça o messianismo começara por ganhar forma no milagre de Fátima, operação estratégica que viria a converter-se num fenómeno opiáceo avassalador. A Igreja, que nunca sofreu as violentas perseguições de que se disse pobre vítima da República, bem pelo contrário, aninhou no seu maternal seio A Igreja vingara-se pela derrocada do seu Antigo Regime bem amado. Uma rainha e um Duce à portuguesa. o todas as conspirações, parturejava ideólogos no Centro Católico, a Igreja que encarava com desagrado os “messias” desejados pelos poetas, pôde, enfim, oferecer um, aparamentado de “mago das finanças”, sóbrio, sombrio e sinistro. Era o que o país ansiava há muito: duas oliveiras, uma no calcário de Fátima, outra entronizada no governo.

  Minada pelo manobrismo politiqueiro, pelas hordas de conservadores que, embora conflituantes, desejavam o mesmo: uma ditadura, a República baqueou sem estrondo e sem mágoa sob a espada de uma casta militar profundamente inculta que se encantou com os esquemas financeiros habilidosos de um obscuro catedrático de Coimbra. Fernando Pessoa, que manifestou muito cedo, desde o movimento «futurista», vulnerável a possíveis aventuras de «salvadores» com carisma, chamou-lhe «contabilista» com desprezo. Na verdade, de maneira geral, intelectuais talentosos que se haviam esforçado por arrancar o país ao mais grosseiro provincianismo, colaboraram na «atmosfera» que preparou uma ditadura que começou por ser «financeira» e provisória, para vir, porém, a perdurar cinquenta miseráveis anos. Não foi apenas o simbolismo dos «camisas verdes» e das bandeiras que forneceram os traços fascistas do novo regime. Foi a polícia política, a abolição do sindicalismo livre, a eliminação coerciva de todos os partidos políticos, o encarceramento e tortura de milhares de operários, a expulsão de mestres e funcionários públicos por mero delito de opinião. A ditadura não se instalou porque existisse uma ameaça comunista, nem sequer uma manifesta «desordem» nas ruas e centros fabris que a «justificasse» (embora se tivesse criado esse mito conveniente). A ditadura veio para ficar com o apoio do grande capital e dos proprietários rurais, tudo com a bênção da Igreja católica revanchista e sempre saudosa do Antigo Regime. Foi sobretudo esta que passou a controlar as Humanidades nos estabelecimentos de ensino, mormente nas áreas da Filosofia, História e Direito, sem esquecermos que era já na escola primária que se procedia à meticulosa «lavagem do cérebro». No dia libertador de 25 de Abril de 1974 a Faculdade de Letras do Porto encontrava-se nas mãos sebosas de uma «elite» de fascistas, os restantes punham-se a jeito. Assim era a Norte, com a Faculdade de Filosofia neo-escolática de Braga a «filtrar» toda a grande filosofia francesa que progredia na Europa civilizada. Na Faculdade de Filosofia do Porto tive de suportar penosamente um indivíduo que ensinava (?) o Kant sem a Revolução Francesa…Todas estas «cabeças pensantes» da ditadura fascista converteram-se à democracia, logo que a contra-revolução triunfou. Definição do fascismo

     O anarquismo era a ideologia dominante. O Partido Socialista tinha pouca influência no movimento sindical. Neste existia a FMP, com o seu jornal «Bandeira Vermelha», fundada em 1919 e da qual saíram os primeiros comunistas que fundaram o PCP. No «Bandeira Vermelha» era cada vez mais notório, pela pena dos seus colaboradores, o apoio entusiástico à Revolução soviética, nomeadamente aos sovietes, e expressava-se com clareza a necessidade de um «partido novo». Em 1920 o anarquismo já correspondia às necessidades do movimento operário, sobretudo após a greve geral frustrada (e reprimida) de 1918.

 

 

 

 

 

27. 

Teses

Este artigo não é de um historiador. É uma conjunto de reflexões de um marxista que recolheu informações historiográficas nas fontes que julga mais seguras de aceitação geral. Algumas vêm assinaladas no fim. Servi-me da exposição em forma de teses de modo a caber num curto espaço uma massa enorme de dados distribuídos por numerosas áreas, qualquer uma delas é enorme complexidade. O argumentário fica pois muito longe de ficar esgotado face ao reportório de acusações de que é alvo o socialismo e o marxismo.

28. A democracia é antitética do capitalismo. A democracia com a reconhecemos hoje é uma aquisição recente, mesmo nos países onde é antigo o demoliberalismo (Inglaterra, Estados Unidos). O capitalismo não necessitou de democracia para se originar e implantar-se. A revolução norte-americana contra a sua condição de colónia da Inglaterra não produziu um regime onde todo o povo era soberano (democracia), mas sobre milhões de escravos. Não foi o grande capital que realizou a Revolução Francesa, foi a pequena e média burguesia. A grande burguesia produziu o Termidor e o Directório e a ditadura de Napoleão Bonaparte.

29. O capitalismo conquistou a «livre iniciativa» espoliando terras dos camponeses e matérias primas, ocupando os latifúndios dos aristocratas nalguns casos e noutros não, criando uma classe que lhe fornecia um excedente com o qual acumulou, apropriou-se do excedente do trabalho. Estabeleceu a igualdade para que pudesse, entre desiguais, apropriar-se. Libertou os servos e libertou os camponeses das suas terras ancestrais. Mas nem todos mesmo assim eram iguais juridicamente. Os nativos das Américas e os negros, os povos dos impérios coloniais.

30. O Exército Vermelho necessitava com absoluta urgência de alimentos, a produção agrícola nas terras mais férteis estava ou atrasada ou caótica, a indústria pesada não satisfazia a demanda. A intervenção estrangeira chegara às portas de Moscovo. Que fazer nessas terríveis circunstâncias? Ordens resolutas de requisições tinham que ser dadas sob pena de uma derrota em todas as frentes, que horrores se seguiriam? É, pois, muito fácil criticar, a posteriori, sem sujar as mãos. A realidade é uma coisa, o ideal é outra. As revoluções decorrem com a sua própria lógica que não vem em manuais.

31. As crises do capitalismo são provocadas fundamentalmente pela queda tendencial da taxa média de lucro. O capital recupera através da destruição e desvalorização de porções do próprio capital. A guerra tem servido de solução.

32. Quando os Estados socialistas foram destruídos onde estavam os milhões de prisioneiros meio mortos de fome que ninguém lhes pôs a vista em cima? Em vez disso, o que trouxe a destruição? Privatizações e oligarquias mafiosas, fome nos campos, desemprego maciço nas cidades, prostituição…

33. O que distingue os regimes fascistas dos regimes ditos demoliberais? Eliminação das liberdades básicas e universais, supremacia absoluta do poder Executivo (um chefe militar, um presidente ou um primeiro ministro ditadores), suspensão sine die de eleições livres, polícia política (tribunais, prisões, torturas, campos de detenção semissecretos, intervenção do Estado na economia protegendo empresas monopolistas na nacionais e estrangeiras, subordinação coerciva da classe operária. Colónias e expansão do “espaço vital” pode verificar-se ou não, forças armadas governamentalizadas e agressivas.

34. PORTUGAL – O anarquismo era a ideologia dominante. O Partido Socialista tinha pouca influência no movimento sindical. Neste existia a FMP, com o seu jornal «Bandeira Vermelha», fundada em 1919 e da qual saíram os primeiros comunistas que fundaram o PCP. No «Bandeira Vermelha» era cada vez mais notório, pela pena dos seus colaboradores, o apoio entusiástico à Revolução soviética, nomeadamente aos sovietes, e expressava-se com clareza a necessidade de um «partido novo». Em 1920 o anarquismo já correspondia às necessidades do movimento operário, sobretudo após a greve geral frustrada (e reprimida) de 1918.

35. “ O fascismo é a ditadura terrorista dos círculos mais reaccionários e agressivos do capital financeiro. Hitler foi um instrumento dos monopólios alemães que alimentaram, apoiaram e lucraram com a criminosa política nazi, incluindo com a mão-de-obra escrava dos prisioneiros dos campos de concentração. Nada disto pode ser esquecido. As tentativas para apagar as responsabilidades do grande capital na hecatombe da Segunda Guerra Mundial e esconder a natureza de classe do nazi-fascismo devem ser fortemente combatidas. (…) Devem ser firmemente rejeitadas operações de falsificação da História que visem apagar, diminuir ou deformar a heroica contribuição do movimento operário, dos comunistas e da União Soviética para a derrota do nazi-fascismo e absolver os EUA, a Grã-Bretanha e a França da política de “apaziguamento” simbolizada pela traição de Munique que, procurando encaminhar a Alemanha nazi contra a URSS, conduziu ao desencadeamento da guerra.» (nota do Secretariado do CC do PCP (Abril de 2015) a propósito do 70º Aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário